Agências de espionagem na Segunda Guerra Mundial

O contexto da Guerra Fria, perpassado pela guerra secreta empreendida pelas agências de espionagens americana e soviética, gerou a demanda social para enaltecer o agente secreto como herói de guerra, servindo, assim, essa memória para fins políticos. Para tal, o cinema ajudou a construir esse ideal no imaginário popular e a legitimar a narrativa. Assim, necessidades do presente criaram os incentivos para “invocar” um personagem do passado e, consequentemente, sua memória.

Na vida prática, havia toda uma preparação em termos de formação, envolvendo o emprego de manuais desenvolvidos por agências que tinham como objetivo ensinar técnicas de sabotagem, guerrilha, defesa pessoal, manuseio de armas de fogo e disfarces aos agentes secretos para que estes repassassem esses conhecimentos aos integrantes de movimentos de resistência nos países ocupados pelo Eixo. Desta forma, as agências americana e britânica procuravam atrapalhar o cotidiano das tropas inimigas e coletar informações

Neste artigo de revisão, selecionamos e comentamos trabalhos que investigaram temáticas da “espionagem” e da “inteligência” no Brasil e fora dele. Ele surge como instrumento auxiliar no desenvolvimento de uma pesquisa história empreendida junto ao Programa de Pós-Graduação em História Comparada, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no qual a ação de algumas das principais instituições governamentais dedicadas a serviços de inteligência e espionagem são o foco. Referimo-nos às britânicas Special Operations Executive (SOE) e Secret Intelligence Service (SIS) e a norte-americana Office of Strategic Services (OSS), fundadas, respectivamente, nos anos 1909, 1940 e 1941, no contexto da Segunda Guerra Mundial.

O levantamento foi realizado no banco de teses da Capes, repositório no qual encontramos quatro trabalhos, que refletem nacionalmente sobre a problemática da espionagem, publicados entre 2009 e 2010.

Ampliando o inventário, tomando por base a bibliografia em língua inglesa, encontramos [uma dezena] de trabalhos publicados em forma de coletâneas e livros teses, que reúnem pesquisadores e também estudos e depoimentos de ex-agentes.

Nos parágrafos a seguir, apresentamos uma síntese dos temas, das teses e dos níveis de interesses expressos por esses dois conjuntos de fontes bibliográficas.

Espionagem na literatura nacional

A primeira dissertação que nos chamou a atenção foi escrita por Rudibert Kilian Júnior e intitulada Cenarização: A ferramenta essencial para uma estratégia efetiva (2009). O autor tem como objetivo analisar a importância da cenarização na elaboração de planejamentos estratégicos. Trata-se de pensar as possíveis situações futuras através da observação do passado e do presente levando em consideração as incertezas e não apenas as situações desejáveis. Tal processo seria fundamental para chegar a previsões e até alterar situações futuras a longo prazo. Isso trata-se do uso da inteligência.

A dissertação de Wilson Machado Tosta Júnior, Eterna Vigilância: Uma história comparada de serviços secretos e seus mecanismos de controle parlamentar no Reino Unido e no Brasil pós-Guerra Fria (1989-2009), defendida em 2010 no Programa de Pós-Graduação em História Comparada, analisa a relação contraditória e complexa entre atividades de inteligência e o sistema democrático constituído pela transparência de informações para proteção da população civil. Para isso, o autor compara o Reino Unido, que possui um regime democrático consolidado e um serviço secreto institucionalizado desde o início do século XX, e o Brasil, que passou por uma transição lenta de um governo ditatorial para democrático sem punições dos responsáveis que passaram a agir no novo serviço de inteligência pós- Guerra Fria. Tosta procura observar os limites que a própria democracia impõe para a segurança e a transparência de informações na proteção do próprio sistema democrático, do Estado e da sociedade civil, mas que precisa de controle parlamentar para evitar seu uso por interesses individuais.

Também sobre o serviço de inteligência brasileiro, temos a dissertação de mestrado de Luiz Carlos de Carvalho Roth, intitulada Uti Exploratoribus: Credibilidade e Controle da Atividade de Inteligência no Brasil (2009). O autor observa como é baixa credibilidade do serviço secreto brasileiro, empreendido pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), diante do processo brasileiro de redemocratização, ocorrido ao final do século XX. Segundo o autor, isso se deve às reminiscências do regime autoritário. Assim, Roth procura identificar os mecanismos que poderiam ser utilizados para aumentar a confiança na inteligência do Brasil por meio de ações de controle para evitar o uso arbitrário do sistema de informação.

Ainda sobre Brasil, mas no contexto da Segunda Guerra Mundial, encontramos o texto de Thiago Pacheco, “Sistema de espionagem e contra espionagem brasileira durante a Segunda Guerra Mundial” (2010). O autor faz um estudo sobre a Delegacia Especial de Segurança Política e Social (DESPS), criada no Estado Novo, com o objetivo de empreender atividades de espionagem e contraespionagem. O propósito deste órgão era principalmente coletar informações a respeito de espiões nazistas, por meio da ação dos ex-integralistas ou agentes infiltrados na embaixada ou disfarçados de empresários, italianos, japoneses, como também de comunistas. O órgão também buscava infiltrar seus informantes nas embaixadas americanas e britânicas para descobrir seus reais interesses.

Entendemos que esses cinco trabalhos não esgotam pesquisas sobre serviço secreto, inteligência e espionagem entre os estudos realizados no Brasil. Entretanto, exemplificam como os autores brasileiros passaram ao largo sobre as atividades do SOE e OSS durante a Segunda Guerra Mundial, reforçando, indiretamente, valor de uma pesquisa que tem a ação das referidas agências como sua principal metas.

Espionagem na literatura inglesa

Era esperado que a literatura inglesa fornecesse grande quantidade de material sobre as agências em questão. Do que encontramos inicialmente, destacamos os trabalhos comentados na sequência.

Iniciemos com a coletânea “The Secrets war: the Office of Strategic Services in World War II” (1991), organizada por George Chalou. A obra trata especificamente do OSS e suas ações durante a Segunda Guerra Mundial. Ela é composta por textos de especialistas sobre o assunto e por ex-agentes da instituição que relatam suas experiências nos teatros de operações do conflito mundial. Desta forma, há artigos sobre sua criação, organização, setores, atividades na Europa, na Ásia e na África, suas relações com o SOE, seus arquivos, seu chefe Donavan, entre outros.

Ainda sobre o OSS temos o texto “The Office of Strategic Services” (2006) de Bruce L. Brager. O autor descreve o serviço de inteligência americano antes da criação do OSS, apontando os órgãos responsáveis por essas atividades e as necessidades encontradas para a criação do Coordinator of Information (COI), posteriormente chamado de Office of Strategic Services. O autor, desta forma, aborda o processo de criação desta instituição, seus objetivos e algumas de suas ações durante a guerra.

Sobre o SOE temos a obra de M.R.D. Foot, intitulada “SOE: An outline history of the Special Operations Executive 1940-46” (1984). Foot além de historiador, foi agente do SOE e lutou ao lado da resistência francesa durante a II Guerra Mundial. Em seu trabalho ele procura apresentar o que era a agência, como nasceu, como estava organizada e como se dava o recrutamento e o treinamento de seu pessoal. Além de abordar os dispositivos, métodos e meios de comunicações utilizados, o autor discute sua segurança e forma de penetração, bem como as suas atuações em teatros de operações em diversos países.

Também sobre a inteligência inglesa, mas abordando sobre o SIS ou MI6 temos o livro “Secret history of MI6 (1909-1949)” de Keith Jeffery, publicada em 2010, que narra o processo de institucionalização e profissionalização do serviço secreto britânico. Explorando o marco temporal 1909/1946, Jeffery nos apresenta o surgimento deste órgão; seus objetivos e suas atividades no contexto do imperialismo, da Primeira Guerra Mundial, da Crise de 1929, da Segunda Guerra Mundial e das preocupações do pós-guerra. Ele assim procede, indicando a forma de organização, os setores, os inimigos e os aliados, as vitórias e as derrotas da instituição.

Quanto às atividades de sabotagem empreendidas pelos ingleses, o livro de Bernand O’Connor “Churchill’s School for Saboteuts Station 17: The secret life Brickendonbury Manor & the WW2 assassins & saboteurs who set occupied Europe alight” (2014) é fonte significativa. O objetivo do autor é estudar o processo de treinamento dos agentes responsáveis por sabotagem e assassinato na Europa ocupada pelo Eixo. Tal treinamento ocorria na escola Brickendonbury. Assim, O’Connor nos mostra como ocorria preparação e seus resultados em operações realizadas por esses agentes.

Ainda sobre o assunto sabotagem, Stephen Bull escreveu texto introdutório na compilação dos manuais de treinamento (2013) utilizados pelo SOE e OSS. Nesse trabalho, o autor primeiramente apresenta essas agências, seus processos de criação e objetivos. Em seguida, descreve o uso desses manuais no trabalho de inteligência efetuado em territórios ocupados pelo inimigo para auxiliar e organizar os movimentos de resistência formados pela população local.

Outro a contribuir com as investigações desse gênero é Mark Seaman, que produz um texto introdutório de “Secret Agent’s Handbook: The WWII Spy, Manual of Devices, Disquises, Gadgets, and Concealed Weapons” (2001). Trata-se de uma compilação de fontes: o catálogo de dispositivos utilizados por agentes secretos na Segunda Guerra Mundial. O objetivo do autor é descrever o uso que os espiões faziam desse equipamento e sua importância, oferecendo dados quantitativos da produção e do emprego de alguns destes dispositivos.

Partindo para um campo mais teórico sobre inteligência temos a obra de Michael Herman, “Intelligence Power in Peace and War”. O autor procura definir o conceito de inteligência apresentando seu processo de institucionalização que começou desde o século XIX, como uma ação de governo, exemplificando essa evolução através de organizações anglo-saxões. Além de indicar os tipos de fontes e seu processo de coleta; seus usos em ações nacionais e internacionais, teatros de operações e cooperação com outras nações; seus problemas e falhas; sua importância nacional e suas dimensões internacionais.

Já sobre o conceito de espionagem, Eva Horn possui o artigo “Knowing the Enemy: The Epistemology of Secret Intelligence”. Para a autora, espionagem são operações secretas empreendidas por agentes secretos ou espiões através de meios clandestinos para enganar e conhecer. Horn quer nos mostrar que não trata-se de verdade ou falsidade, e sim da eficácia tática como resultado deste tipo de operação.

Por fim, ainda temos dois dicionários dedicados a abordar a inteligência. O primeiro, “Historical Dictionary of Intelligence Failures” de Glenmore S. Trenear- Harvey, trata-se das principais falhas cometidas pelos serviços secretos em operações ao longo da história. O segundo, “The A to Z of British Inteligente” de Nigel West, possui um caráter mais amplos ao nos fornecer definições e narrativas sobre agências, operações, equipamentos etc.

Como esse breve inventário comentado, constatamos que a bibliografia inglesa, evidentemente, demonstra em riqueza de detalhes, os processos de criação (incluindo metas, contextos e agentes), as áreas de atuação, os mecanismos de ação, a instrução de agentes e o material didático empregado nessa formação. As obras também indicam como o estudo sobre o SOE e o OSS é amplamente difundindo no cenário internacional.

Isso implica dizer que a iniciativa de estudar (desde o Brasil) a ação das agências referidas mostra-se bastante promissor e plenamente exequível. A revisão que fizemos aqui também demonstra que a pesquisa nacional brasileira pode contribuir para a produção de conhecimento na matéria, principalmente, quando tomadas as ações de inteligência americana em comparação com as ações de espionagem estadunidense, no contexto da Segunda Guerra Mundial.

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Agências de espionagem na Segunda Guerra Mundial

O contexto da Guerra Fria, perpassado pela guerra secreta empreendida pelas agências de espionagens americana e soviética, gerou a demanda social para enaltecer o agente secreto como herói de guerra, servindo, assim, essa memória para fins políticos. Para tal, o cinema ajudou a construir esse ideal no imaginário popular e a legitimar a narrativa. Assim, necessidades do presente criaram os incentivos para “invocar” um personagem do passado e, consequentemente, sua memória.

Na vida prática, havia toda uma preparação em termos de formação, envolvendo o emprego de manuais desenvolvidos por agências que tinham como objetivo ensinar técnicas de sabotagem, guerrilha, defesa pessoal, manuseio de armas de fogo e disfarces aos agentes secretos para que estes repassassem esses conhecimentos aos integrantes de movimentos de resistência nos países ocupados pelo Eixo. Desta forma, as agências americana e britânica procuravam atrapalhar o cotidiano das tropas inimigas e coletar informações

Neste artigo de revisão, selecionamos e comentamos trabalhos que investigaram temáticas da “espionagem” e da “inteligência” no Brasil e fora dele. Ele surge como instrumento auxiliar no desenvolvimento de uma pesquisa história empreendida junto ao Programa de Pós-Graduação em História Comparada, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no qual a ação de algumas das principais instituições governamentais dedicadas a serviços de inteligência e espionagem são o foco. Referimo-nos às britânicas Special Operations Executive (SOE) e Secret Intelligence Service (SIS) e a norte-americana Office of Strategic Services (OSS), fundadas, respectivamente, nos anos 1909, 1940 e 1941, no contexto da Segunda Guerra Mundial.

O levantamento foi realizado no banco de teses da Capes, repositório no qual encontramos quatro trabalhos, que refletem nacionalmente sobre a problemática da espionagem, publicados entre 2009 e 2010.

Ampliando o inventário, tomando por base a bibliografia em língua inglesa, encontramos [uma dezena] de trabalhos publicados em forma de coletâneas e livros teses, que reúnem pesquisadores e também estudos e depoimentos de ex-agentes.

Nos parágrafos a seguir, apresentamos uma síntese dos temas, das teses e dos níveis de interesses expressos por esses dois conjuntos de fontes bibliográficas.

Espionagem na literatura nacional

A primeira dissertação que nos chamou a atenção foi escrita por Rudibert Kilian Júnior e intitulada Cenarização: A ferramenta essencial para uma estratégia efetiva (2009). O autor tem como objetivo analisar a importância da cenarização na elaboração de planejamentos estratégicos. Trata-se de pensar as possíveis situações futuras através da observação do passado e do presente levando em consideração as incertezas e não apenas as situações desejáveis. Tal processo seria fundamental para chegar a previsões e até alterar situações futuras a longo prazo. Isso trata-se do uso da inteligência.

A dissertação de Wilson Machado Tosta Júnior, Eterna Vigilância: Uma história comparada de serviços secretos e seus mecanismos de controle parlamentar no Reino Unido e no Brasil pós-Guerra Fria (1989-2009), defendida em 2010 no Programa de Pós-Graduação em História Comparada, analisa a relação contraditória e complexa entre atividades de inteligência e o sistema democrático constituído pela transparência de informações para proteção da população civil. Para isso, o autor compara o Reino Unido, que possui um regime democrático consolidado e um serviço secreto institucionalizado desde o início do século XX, e o Brasil, que passou por uma transição lenta de um governo ditatorial para democrático sem punições dos responsáveis que passaram a agir no novo serviço de inteligência pós- Guerra Fria. Tosta procura observar os limites que a própria democracia impõe para a segurança e a transparência de informações na proteção do próprio sistema democrático, do Estado e da sociedade civil, mas que precisa de controle parlamentar para evitar seu uso por interesses individuais.

Também sobre o serviço de inteligência brasileiro, temos a dissertação de mestrado de Luiz Carlos de Carvalho Roth, intitulada Uti Exploratoribus: Credibilidade e Controle da Atividade de Inteligência no Brasil (2009). O autor observa como é baixa credibilidade do serviço secreto brasileiro, empreendido pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), diante do processo brasileiro de redemocratização, ocorrido ao final do século XX. Segundo o autor, isso se deve às reminiscências do regime autoritário. Assim, Roth procura identificar os mecanismos que poderiam ser utilizados para aumentar a confiança na inteligência do Brasil por meio de ações de controle para evitar o uso arbitrário do sistema de informação.

Ainda sobre Brasil, mas no contexto da Segunda Guerra Mundial, encontramos o texto de Thiago Pacheco, “Sistema de espionagem e contra espionagem brasileira durante a Segunda Guerra Mundial” (2010). O autor faz um estudo sobre a Delegacia Especial de Segurança Política e Social (DESPS), criada no Estado Novo, com o objetivo de empreender atividades de espionagem e contraespionagem. O propósito deste órgão era principalmente coletar informações a respeito de espiões nazistas, por meio da ação dos ex-integralistas ou agentes infiltrados na embaixada ou disfarçados de empresários, italianos, japoneses, como também de comunistas. O órgão também buscava infiltrar seus informantes nas embaixadas americanas e britânicas para descobrir seus reais interesses.

Entendemos que esses cinco trabalhos não esgotam pesquisas sobre serviço secreto, inteligência e espionagem entre os estudos realizados no Brasil. Entretanto, exemplificam como os autores brasileiros passaram ao largo sobre as atividades do SOE e OSS durante a Segunda Guerra Mundial, reforçando, indiretamente, valor de uma pesquisa que tem a ação das referidas agências como sua principal metas.

Espionagem na literatura inglesa

Era esperado que a literatura inglesa fornecesse grande quantidade de material sobre as agências em questão. Do que encontramos inicialmente, destacamos os trabalhos comentados na sequência.

Iniciemos com a coletânea “The Secrets war: the Office of Strategic Services in World War II” (1991), organizada por George Chalou. A obra trata especificamente do OSS e suas ações durante a Segunda Guerra Mundial. Ela é composta por textos de especialistas sobre o assunto e por ex-agentes da instituição que relatam suas experiências nos teatros de operações do conflito mundial. Desta forma, há artigos sobre sua criação, organização, setores, atividades na Europa, na Ásia e na África, suas relações com o SOE, seus arquivos, seu chefe Donavan, entre outros.

Ainda sobre o OSS temos o texto “The Office of Strategic Services” (2006) de Bruce L. Brager. O autor descreve o serviço de inteligência americano antes da criação do OSS, apontando os órgãos responsáveis por essas atividades e as necessidades encontradas para a criação do Coordinator of Information (COI), posteriormente chamado de Office of Strategic Services. O autor, desta forma, aborda o processo de criação desta instituição, seus objetivos e algumas de suas ações durante a guerra.

Sobre o SOE temos a obra de M.R.D. Foot, intitulada “SOE: An outline history of the Special Operations Executive 1940-46” (1984). Foot além de historiador, foi agente do SOE e lutou ao lado da resistência francesa durante a II Guerra Mundial. Em seu trabalho ele procura apresentar o que era a agência, como nasceu, como estava organizada e como se dava o recrutamento e o treinamento de seu pessoal. Além de abordar os dispositivos, métodos e meios de comunicações utilizados, o autor discute sua segurança e forma de penetração, bem como as suas atuações em teatros de operações em diversos países.

Também sobre a inteligência inglesa, mas abordando sobre o SIS ou MI6 temos o livro “Secret history of MI6 (1909-1949)” de Keith Jeffery, publicada em 2010, que narra o processo de institucionalização e profissionalização do serviço secreto britânico. Explorando o marco temporal 1909/1946, Jeffery nos apresenta o surgimento deste órgão; seus objetivos e suas atividades no contexto do imperialismo, da Primeira Guerra Mundial, da Crise de 1929, da Segunda Guerra Mundial e das preocupações do pós-guerra. Ele assim procede, indicando a forma de organização, os setores, os inimigos e os aliados, as vitórias e as derrotas da instituição.

Quanto às atividades de sabotagem empreendidas pelos ingleses, o livro de Bernand O’Connor “Churchill’s School for Saboteuts Station 17: The secret life Brickendonbury Manor & the WW2 assassins & saboteurs who set occupied Europe alight” (2014) é fonte significativa. O objetivo do autor é estudar o processo de treinamento dos agentes responsáveis por sabotagem e assassinato na Europa ocupada pelo Eixo. Tal treinamento ocorria na escola Brickendonbury. Assim, O’Connor nos mostra como ocorria preparação e seus resultados em operações realizadas por esses agentes.

Ainda sobre o assunto sabotagem, Stephen Bull escreveu texto introdutório na compilação dos manuais de treinamento (2013) utilizados pelo SOE e OSS. Nesse trabalho, o autor primeiramente apresenta essas agências, seus processos de criação e objetivos. Em seguida, descreve o uso desses manuais no trabalho de inteligência efetuado em territórios ocupados pelo inimigo para auxiliar e organizar os movimentos de resistência formados pela população local.

Outro a contribuir com as investigações desse gênero é Mark Seaman, que produz um texto introdutório de “Secret Agent’s Handbook: The WWII Spy, Manual of Devices, Disquises, Gadgets, and Concealed Weapons” (2001). Trata-se de uma compilação de fontes: o catálogo de dispositivos utilizados por agentes secretos na Segunda Guerra Mundial. O objetivo do autor é descrever o uso que os espiões faziam desse equipamento e sua importância, oferecendo dados quantitativos da produção e do emprego de alguns destes dispositivos.

Partindo para um campo mais teórico sobre inteligência temos a obra de Michael Herman, “Intelligence Power in Peace and War”. O autor procura definir o conceito de inteligência apresentando seu processo de institucionalização que começou desde o século XIX, como uma ação de governo, exemplificando essa evolução através de organizações anglo-saxões. Além de indicar os tipos de fontes e seu processo de coleta; seus usos em ações nacionais e internacionais, teatros de operações e cooperação com outras nações; seus problemas e falhas; sua importância nacional e suas dimensões internacionais.

Já sobre o conceito de espionagem, Eva Horn possui o artigo “Knowing the Enemy: The Epistemology of Secret Intelligence”. Para a autora, espionagem são operações secretas empreendidas por agentes secretos ou espiões através de meios clandestinos para enganar e conhecer. Horn quer nos mostrar que não trata-se de verdade ou falsidade, e sim da eficácia tática como resultado deste tipo de operação.

Por fim, ainda temos dois dicionários dedicados a abordar a inteligência. O primeiro, “Historical Dictionary of Intelligence Failures” de Glenmore S. Trenear- Harvey, trata-se das principais falhas cometidas pelos serviços secretos em operações ao longo da história. O segundo, “The A to Z of British Inteligente” de Nigel West, possui um caráter mais amplos ao nos fornecer definições e narrativas sobre agências, operações, equipamentos etc.

Como esse breve inventário comentado, constatamos que a bibliografia inglesa, evidentemente, demonstra em riqueza de detalhes, os processos de criação (incluindo metas, contextos e agentes), as áreas de atuação, os mecanismos de ação, a instrução de agentes e o material didático empregado nessa formação. As obras também indicam como o estudo sobre o SOE e o OSS é amplamente difundindo no cenário internacional.

Isso implica dizer que a iniciativa de estudar (desde o Brasil) a ação das agências referidas mostra-se bastante promissor e plenamente exequível. A revisão que fizemos aqui também demonstra que a pesquisa nacional brasileira pode contribuir para a produção de conhecimento na matéria, principalmente, quando tomadas as ações de inteligência americana em comparação com as ações de espionagem estadunidense, no contexto da Segunda Guerra Mundial.

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