Animais e deuses – Resenha de Helber Vieira Durães (FAI) sobre o livro “Sapiens – Uma breve história da humanidade”, de Yuval Noah Harari

Yuval Noah Harari | Imagem: Getty Images/BBC

Resumo: Sapiens – Uma breve história da humanidade, de Yuval Noah Harari, publicado em 2020 pela Editora Companhia das Letras, explora as revoluções Cognitiva, Agrícola e Científica que moldaram a humanidade. Com 471 páginas, Harari, um historiador israelense, oferece uma perspectiva biológica, social e comportamental da espécie humana.

Palavras-chave: História da Humanidade, Revolução, Sapiens.


Sapiens  uma breve história da humanidade foi lançado originalmente em 2011 em Israel, mas logo se tornaria uma obra de alcance internacional, sendo traduzido para mais de quarenta países e recomendado por nomes como Barack Obama, Bill Gates, a atriz Natalie Portman, o filósofo brasileiro Leandro Karnal, entre outros. No Brasil foi traduzido para sua primeira edição por Jorio Dauster e lançado pela Editora Companhia das Letras em 2020. A obra tem 4 partes com 20 capítulos distribuídos em 471 páginas. Ainda que sem um texto de Introdução, o autor nos apresenta três revoluções de nossa espécie que, segundo ele, moldaram o curso de nossa história. São elas: Revolução Cognitiva, Agrícola e Científica. Consideremos, portanto, que o objetivo do livro é narrar essas revoluções e suas consequências para os seres vivos.

Yuval Noah Harari é um historiador israelense nascido em 1976. É Ph.D em História pela Universidade de Oxford e professor na Universidade Hebraica em Jerusalém. Possui linha de pesquisa direcionada à relação entre biologia, conceito de justiça e relações sociais com a linha do tempo da história humana. Além do fenômeno internacional Sapiens  uma breve história da humanidade, Harari escreveu as sequências “Homo Deus  uma breve história do amanhã” e também “21 lições para o século 21”. Em 2012, recebeu o Prêmio Polonsky por Criatividade e Originalidade nas Disciplinas Humanísticas.

Na primeira parte, que compreende os capítulos de 1 ao 4, a obra faz uma leitura histórica da espécie em suas características biológicas, sociais e comportamentais além de propor uma reflexão sobre os rumos que os homo sapiens tomaram, partindo do princípio de que os sapiens provavelmente conviveram com outras espécies de humanos. Enquanto mostra características que nos fizeram destacar das demais espécies, como a capacidade de planejar e nos organizar, Sapiens explica que nossos antepassados já eram capazes de produzir ficção, de acreditar no imaginário, seja para seu próprio divertimento como contar histórias, criar deuses, unir um grupo por ideal. Ele exemplifica que um Neandertal, embora fosse mais forte e também com um cérebro maior, em sua individualidade, não seria capaz de derrotar um grupo de sapiens por sua por estar aquém na capacidade de planejar.

Essa primeira parte, chamada de Revolução Cognitiva nos sugere que os sapiens sejam responsáveis pela extinção das demais espécies de humanos, apontando a coincidência de que cada região que os homo sapiens chegam, deixam rastros de destruição, ou por um infeliz acaso, as espécies reduzem seus números e tendem a desaparecer, sem descartar a possibilidade de que os próprios tenham arquitetado essas extinções: “Talvez tenha sido exatamente por isso que nossos ancestrais eliminaram os neandertais. Eles eram similares demais para se ignorar, mas diferentes demais para sem tolerados” (p.26). O autor fundamenta o impacto de revolução cognitiva, apontando para o fato de que ainda no tempo — entre 70 e 12 mil anos atrás — caçadores coletores habilidosos, não houve uma significativa alteração em nosso DNA, mas nosso avanço foi tão rápido que as demais espécies de animais não tiveram tempo para se adaptarem. Essa etapa do livro é marcada sobre nosso rastro no mundo do ponto de vista do raciocínio e do que fizemos com esse poder.

Nos capítulos de 5 ao 8, referentes a parte da Revolução Agrícola, o autor mostra que ao chegar no Oriente Médio, há 70 mil anos, os homo sapiens passaram os 50 mil anos seguintes prosperando naquela região seguintes ainda sem se dedicar à agricultura e há mais de 9 mil anos passaram de fato a cultivar grãos enquanto a vida nômade de caçador-coletor era deixada. Aqui o autor faz uma relação entre o cultivo dos campos, hábitos alimentares, aumento dos índices demográficos, mortalidade infantil atrelada ao fato das crianças nos assentamentos se alimentarem menos do leite materno, impactos no corpo dos sapiens — não naturais para o novo estilo de vida — e surgimento de doenças.

Essas condições em assentamentos requerem mais comida, mais cuidados, mais demanda. Assim, é possível entender que os sapiens agora também precisavam se preocupar em poupar e armazenar alimentos. Os planos da safra seguinte em busca da segurança econômica-alimentar. Aqui já havia um problema de distribuição, lideranças, elites, organizações políticas, excedentes, concentração de recursos e desigualdade. Para Harari, “a história é o que algumas pessoas fizeram enquanto todas as outras estavam arando campos e carregando baldes de água”(p.116). Nessa parte do livro, Harari acrescenta que outros fatores responsáveis pela construção de um grande grupo de homo sapiens estão embasados em construções sociais. Isso inclui não só sistemas, mas crenças, gênero em sua discussão sobre natural e não natural.

Na parte referente a Revolução Científica, que compreende os capítulos de 14 a 20, a obra faz uma escalada no processo de que as perguntas movem a crescente científica: a necessidade de não aceitar estagnar-se no conhecimento atual. Nessa etapa da obra, palavras como ciência, recursos, poder, capital, mercado e sentido da vida ganham espaço.

Aqui o autor esmiúça a crescente científica, seus impactos e faz projeções para um futuro em que a tecnologia pode nos garantir longevidade e imortalidade, mas que também, na condição de deuses — tomando os outros animais como parâmetro de poder — poderemos também desaparecer. Nosso maior poder é a causa de nosso fim. Somos muitos, podemos muito, queremos demais, mas não sabemos o que queremos e estamos sempre insatisfeitos.

Restam poucos cenários realistas que limitem o aquecimento global a 1,5ºC | Foto: Marek Piwnicki/Unsplash/Globo.com

O autor faz uma análise por meio do que chamou de ciclo de retroalimentação da Revolução Científica em que as pesquisas científicas necessitam de recursos fornecidas pelos que têm poder. Financiando as pesquisas, esses agentes lhes fornecem avanços e descobertas que lhes dão ainda mais vantagens para ter mais poder e assim reiniciar o ciclo. Em síntese, os governos e entidades financiam as pesquisas a fim de obter e desenvolver novas tecnologias para seu próprio benefício.

A obra é de fato convidativa para reflexões de origens, desenvolvimento e sobrevivência enquanto espécie, além de uma projeção futurista embasada nessa caminhada. Contudo, pode-se perceber que durante essa viagem literária, o autor une informações históricas comprovadas com proposições que têm ali um valor de “já pensou se foi assim?” Isto é, ele mistura muito essas duas estratégias argumentativas. Como a construção é feita com esmero e riqueza de detalhes, isso pode dar um sentido de oficial a todo o conjunto, que para um leitor leigo em História é prejudicial. Além disso, em alguns momentos, Harari deixa claro que a teoria que está abordando não é aceita por uma parcela substancial de pesquisadores, mas o faz logo após nos “vendê-la” durante a leitura. Por fim, ter uma introdução que esteja além de uma tabela temporal e uma conclusão que não seja uma retrospectiva pessimista, — e mais clara que um teaser para o próximo livro futurista do autor — daria à obra o acorde que parece faltar para dar por finalizada uma música.

Não obstante essas imperfeições, o livro é um passeio nos momentos recentes da Era Cenozoica, sendo a humanidade o evento mais recente, mas tão significativo do ponto de vista do registro histórico, das heranças biológicas e culturais de nossos antepassados. A percepção é a de que somos — ainda que poderosos — animais, sozinhos como espécie, mas nada bons de coexistência com os outros animais. Nesta experiência, unindo uma jornada pré-histórica a uma projeção futurista, talvez seja possível sentir um jogo semântico que dá vazão a uma agradável e justa indagação: uma breve história da humanidade é assim tão breve por ter sido brevemente contada, ou o autor sugere que nossa história por aqui, enquanto espécie será breve?

Considerando que o objetivo da obra foi mostrar as três revoluções propostas e seu impacto no curso da história da humanidade, o livro faz uma excelente linha do tempo, construindo argumentos e fundamentações dos momentos narrados, daremos aqui como cumprido o seu objetivo. Na obra o autor constrói a narrativa sobre o ser humano, o homo sapiens a partir de uma perspectiva de animal insignificante, com fragilidades físicas e força física aquém de de outra — ou outras — espécies de humanos com a qual conviveu e encerra como um deus irresponsável e insatisfeito, mas tão poderoso. Em cada parte o leitor pode refletir e sentir o avanço como espécie e suas consequências enquanto ocorrem, recebendo a perspectiva futurista sem impacto porque as etapas foram contempladas para essa construção ideal. É uma obra indicada para estudantes de história, entusiastas do conhecimento de origens da humanidade, teólogos e políticos.

Sumário de Sapiens: uma breve história da humanidade

  • I: A Revolução cognitiva
  • 1. Um animal insignificante
  • 2. A árvore do conhecimento
  • 3. Um dia na vida de Adão e Eva
  • 4. O dilúvio
  • II: A Revolução agrícola
  • 5. A maior fraude da história
  • 6. Construindo Pirâmides
  • 7. Sobrecarga da Memória
  • 8. Não há justiça na história
  • III: A unificação da Humanidade
  • 9. A seta da história
  • 10. O cheiro do dinheiro
  • 11. Visões Imperiais
  • 12. A Lei da religião
  • 13. O segredo do sucesso
  • IV. A Revolução científica
  • 14. A descoberta da ignorância
  • 15. O casamento da ciência com o império
  • 16. A fé capitalista
  • 17. As engrenagens da indústria
  • 18. Uma revolução permanente
  • 19. E viveram felizes para sempre
  • 20. O fim do Homo Sapiens
  • Epílogo: O animal que se tornou um Deus
  • Agradecimentos
  • Notas
  • Créditos das imagens
  • Índice remissivo

Para ampliar a sua revisão da literatura


Resenhista

Helber Vieira Durães é professor de Geografia, professor de Extensionistas em Engenharia Civil na FAI – Faculdade Irecê, graduado em Arquitetura e Urbanismo pela UNIFACISA(2016), especialista em estruturas e fundações pela Anhanguera (2020) aluno especial de mestrado em Estudos Africanos, Povos Indígenas e Cultura Negra ( PPGEAFIN/Uneb), Campus Irecê-BA. Lattes:  http://lattes.cnpq.br/8386613530621060; ID ORCID: https://orcid.org/0009-0008-6520-0608; E-mail: helber.arq@gmail.com.


Para citar esta resenha

HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. São Paulo. Companhia das Letras , 2015. 464p. Resenha de: DURÃES, Helber Vieira. Homens e deuses. Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n.13, set./out., 2023. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/animais-e-deuses-resenha-de-helber-vieira-duraes-sobre-o-livro-sapiens-uma-breve-historia-da-humanidade-de-yuval-noah-harari/>.


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n. 13, set./out., 2023 | ISSN 2764-2666

 

 

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Yuval Noah Harari | Imagem: Getty Images/BBC

Resumo: Sapiens – Uma breve história da humanidade, de Yuval Noah Harari, publicado em 2020 pela Editora Companhia das Letras, explora as revoluções Cognitiva, Agrícola e Científica que moldaram a humanidade. Com 471 páginas, Harari, um historiador israelense, oferece uma perspectiva biológica, social e comportamental da espécie humana.

Palavras-chave: História da Humanidade, Revolução, Sapiens.


Sapiens  uma breve história da humanidade foi lançado originalmente em 2011 em Israel, mas logo se tornaria uma obra de alcance internacional, sendo traduzido para mais de quarenta países e recomendado por nomes como Barack Obama, Bill Gates, a atriz Natalie Portman, o filósofo brasileiro Leandro Karnal, entre outros. No Brasil foi traduzido para sua primeira edição por Jorio Dauster e lançado pela Editora Companhia das Letras em 2020. A obra tem 4 partes com 20 capítulos distribuídos em 471 páginas. Ainda que sem um texto de Introdução, o autor nos apresenta três revoluções de nossa espécie que, segundo ele, moldaram o curso de nossa história. São elas: Revolução Cognitiva, Agrícola e Científica. Consideremos, portanto, que o objetivo do livro é narrar essas revoluções e suas consequências para os seres vivos.

Yuval Noah Harari é um historiador israelense nascido em 1976. É Ph.D em História pela Universidade de Oxford e professor na Universidade Hebraica em Jerusalém. Possui linha de pesquisa direcionada à relação entre biologia, conceito de justiça e relações sociais com a linha do tempo da história humana. Além do fenômeno internacional Sapiens  uma breve história da humanidade, Harari escreveu as sequências “Homo Deus  uma breve história do amanhã” e também “21 lições para o século 21”. Em 2012, recebeu o Prêmio Polonsky por Criatividade e Originalidade nas Disciplinas Humanísticas.

Na primeira parte, que compreende os capítulos de 1 ao 4, a obra faz uma leitura histórica da espécie em suas características biológicas, sociais e comportamentais além de propor uma reflexão sobre os rumos que os homo sapiens tomaram, partindo do princípio de que os sapiens provavelmente conviveram com outras espécies de humanos. Enquanto mostra características que nos fizeram destacar das demais espécies, como a capacidade de planejar e nos organizar, Sapiens explica que nossos antepassados já eram capazes de produzir ficção, de acreditar no imaginário, seja para seu próprio divertimento como contar histórias, criar deuses, unir um grupo por ideal. Ele exemplifica que um Neandertal, embora fosse mais forte e também com um cérebro maior, em sua individualidade, não seria capaz de derrotar um grupo de sapiens por sua por estar aquém na capacidade de planejar.

Essa primeira parte, chamada de Revolução Cognitiva nos sugere que os sapiens sejam responsáveis pela extinção das demais espécies de humanos, apontando a coincidência de que cada região que os homo sapiens chegam, deixam rastros de destruição, ou por um infeliz acaso, as espécies reduzem seus números e tendem a desaparecer, sem descartar a possibilidade de que os próprios tenham arquitetado essas extinções: “Talvez tenha sido exatamente por isso que nossos ancestrais eliminaram os neandertais. Eles eram similares demais para se ignorar, mas diferentes demais para sem tolerados” (p.26). O autor fundamenta o impacto de revolução cognitiva, apontando para o fato de que ainda no tempo — entre 70 e 12 mil anos atrás — caçadores coletores habilidosos, não houve uma significativa alteração em nosso DNA, mas nosso avanço foi tão rápido que as demais espécies de animais não tiveram tempo para se adaptarem. Essa etapa do livro é marcada sobre nosso rastro no mundo do ponto de vista do raciocínio e do que fizemos com esse poder.

Nos capítulos de 5 ao 8, referentes a parte da Revolução Agrícola, o autor mostra que ao chegar no Oriente Médio, há 70 mil anos, os homo sapiens passaram os 50 mil anos seguintes prosperando naquela região seguintes ainda sem se dedicar à agricultura e há mais de 9 mil anos passaram de fato a cultivar grãos enquanto a vida nômade de caçador-coletor era deixada. Aqui o autor faz uma relação entre o cultivo dos campos, hábitos alimentares, aumento dos índices demográficos, mortalidade infantil atrelada ao fato das crianças nos assentamentos se alimentarem menos do leite materno, impactos no corpo dos sapiens — não naturais para o novo estilo de vida — e surgimento de doenças.

Essas condições em assentamentos requerem mais comida, mais cuidados, mais demanda. Assim, é possível entender que os sapiens agora também precisavam se preocupar em poupar e armazenar alimentos. Os planos da safra seguinte em busca da segurança econômica-alimentar. Aqui já havia um problema de distribuição, lideranças, elites, organizações políticas, excedentes, concentração de recursos e desigualdade. Para Harari, “a história é o que algumas pessoas fizeram enquanto todas as outras estavam arando campos e carregando baldes de água”(p.116). Nessa parte do livro, Harari acrescenta que outros fatores responsáveis pela construção de um grande grupo de homo sapiens estão embasados em construções sociais. Isso inclui não só sistemas, mas crenças, gênero em sua discussão sobre natural e não natural.

Na parte referente a Revolução Científica, que compreende os capítulos de 14 a 20, a obra faz uma escalada no processo de que as perguntas movem a crescente científica: a necessidade de não aceitar estagnar-se no conhecimento atual. Nessa etapa da obra, palavras como ciência, recursos, poder, capital, mercado e sentido da vida ganham espaço.

Aqui o autor esmiúça a crescente científica, seus impactos e faz projeções para um futuro em que a tecnologia pode nos garantir longevidade e imortalidade, mas que também, na condição de deuses — tomando os outros animais como parâmetro de poder — poderemos também desaparecer. Nosso maior poder é a causa de nosso fim. Somos muitos, podemos muito, queremos demais, mas não sabemos o que queremos e estamos sempre insatisfeitos.

Restam poucos cenários realistas que limitem o aquecimento global a 1,5ºC | Foto: Marek Piwnicki/Unsplash/Globo.com

O autor faz uma análise por meio do que chamou de ciclo de retroalimentação da Revolução Científica em que as pesquisas científicas necessitam de recursos fornecidas pelos que têm poder. Financiando as pesquisas, esses agentes lhes fornecem avanços e descobertas que lhes dão ainda mais vantagens para ter mais poder e assim reiniciar o ciclo. Em síntese, os governos e entidades financiam as pesquisas a fim de obter e desenvolver novas tecnologias para seu próprio benefício.

A obra é de fato convidativa para reflexões de origens, desenvolvimento e sobrevivência enquanto espécie, além de uma projeção futurista embasada nessa caminhada. Contudo, pode-se perceber que durante essa viagem literária, o autor une informações históricas comprovadas com proposições que têm ali um valor de “já pensou se foi assim?” Isto é, ele mistura muito essas duas estratégias argumentativas. Como a construção é feita com esmero e riqueza de detalhes, isso pode dar um sentido de oficial a todo o conjunto, que para um leitor leigo em História é prejudicial. Além disso, em alguns momentos, Harari deixa claro que a teoria que está abordando não é aceita por uma parcela substancial de pesquisadores, mas o faz logo após nos “vendê-la” durante a leitura. Por fim, ter uma introdução que esteja além de uma tabela temporal e uma conclusão que não seja uma retrospectiva pessimista, — e mais clara que um teaser para o próximo livro futurista do autor — daria à obra o acorde que parece faltar para dar por finalizada uma música.

Não obstante essas imperfeições, o livro é um passeio nos momentos recentes da Era Cenozoica, sendo a humanidade o evento mais recente, mas tão significativo do ponto de vista do registro histórico, das heranças biológicas e culturais de nossos antepassados. A percepção é a de que somos — ainda que poderosos — animais, sozinhos como espécie, mas nada bons de coexistência com os outros animais. Nesta experiência, unindo uma jornada pré-histórica a uma projeção futurista, talvez seja possível sentir um jogo semântico que dá vazão a uma agradável e justa indagação: uma breve história da humanidade é assim tão breve por ter sido brevemente contada, ou o autor sugere que nossa história por aqui, enquanto espécie será breve?

Considerando que o objetivo da obra foi mostrar as três revoluções propostas e seu impacto no curso da história da humanidade, o livro faz uma excelente linha do tempo, construindo argumentos e fundamentações dos momentos narrados, daremos aqui como cumprido o seu objetivo. Na obra o autor constrói a narrativa sobre o ser humano, o homo sapiens a partir de uma perspectiva de animal insignificante, com fragilidades físicas e força física aquém de de outra — ou outras — espécies de humanos com a qual conviveu e encerra como um deus irresponsável e insatisfeito, mas tão poderoso. Em cada parte o leitor pode refletir e sentir o avanço como espécie e suas consequências enquanto ocorrem, recebendo a perspectiva futurista sem impacto porque as etapas foram contempladas para essa construção ideal. É uma obra indicada para estudantes de história, entusiastas do conhecimento de origens da humanidade, teólogos e políticos.

Sumário de Sapiens: uma breve história da humanidade

  • I: A Revolução cognitiva
  • 1. Um animal insignificante
  • 2. A árvore do conhecimento
  • 3. Um dia na vida de Adão e Eva
  • 4. O dilúvio
  • II: A Revolução agrícola
  • 5. A maior fraude da história
  • 6. Construindo Pirâmides
  • 7. Sobrecarga da Memória
  • 8. Não há justiça na história
  • III: A unificação da Humanidade
  • 9. A seta da história
  • 10. O cheiro do dinheiro
  • 11. Visões Imperiais
  • 12. A Lei da religião
  • 13. O segredo do sucesso
  • IV. A Revolução científica
  • 14. A descoberta da ignorância
  • 15. O casamento da ciência com o império
  • 16. A fé capitalista
  • 17. As engrenagens da indústria
  • 18. Uma revolução permanente
  • 19. E viveram felizes para sempre
  • 20. O fim do Homo Sapiens
  • Epílogo: O animal que se tornou um Deus
  • Agradecimentos
  • Notas
  • Créditos das imagens
  • Índice remissivo

Para ampliar a sua revisão da literatura


Resenhista

Helber Vieira Durães é professor de Geografia, professor de Extensionistas em Engenharia Civil na FAI – Faculdade Irecê, graduado em Arquitetura e Urbanismo pela UNIFACISA(2016), especialista em estruturas e fundações pela Anhanguera (2020) aluno especial de mestrado em Estudos Africanos, Povos Indígenas e Cultura Negra ( PPGEAFIN/Uneb), Campus Irecê-BA. Lattes:  http://lattes.cnpq.br/8386613530621060; ID ORCID: https://orcid.org/0009-0008-6520-0608; E-mail: helber.arq@gmail.com.


Para citar esta resenha

HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. São Paulo. Companhia das Letras , 2015. 464p. Resenha de: DURÃES, Helber Vieira. Homens e deuses. Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n.13, set./out., 2023. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/animais-e-deuses-resenha-de-helber-vieira-duraes-sobre-o-livro-sapiens-uma-breve-historia-da-humanidade-de-yuval-noah-harari/>.


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n. 13, set./out., 2023 | ISSN 2764-2666

 

 

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