Conturbado século XX – Resenha de “História Contemporânea 2 – do entreguerras à nova ordem mundial”, de Marcos Napolitano

Resenhado por Joyce Ferreira Sousa (URCA) | ID Orcid: https://orcid.org/0000-0002-0139-2857.

Marcos Napolitano | Imagem: Carta Campinas

Com uma linguagem que se propõe clara e simples, Marcos Napolitano desenvolve no livro História contemporânea: Vol. 2: do entreguerras à ordem mundial uma relevante apresentação sobre os eventos que abalaram o mundo ao longo do século XX. Sua periodização abarca dos anos 1920 até meados do século XXI, em uma transparente percepção da existência de eventos de longa duração que não se encerraram com o apagar das luzes do século XX. Nesse sentido, a obra se encontra dividida em seis capítulos que se desdobram em subtópicos específicos que vão desde a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, passando pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945), até chegar aos vários conflitos ocorridos ao redor do mundo após o fim da Guerra Fria (1947-1991).

De modo imediato, o autor apresenta ao leitor uma sucinta, porém elucidativa, discussão sobre as movimentações e escolhas teórico-metodológicas tomadas em relação ao que se convencionou chamar de História Contemporânea, buscando explicitar o seu significado ao longo desse processo. Se no século XIX, quando a História dava seus primeiros passos enquanto disciplina em busca de legitimação científica, foi proposto o afastamento por parte do historiador dos acontecimentos de seu presente, garantindo assim uma pretensa neutralidade em sua análise, no final do mesmo “convencionou-se chamar de ‘História Contemporânea’ o estudo de tudo que ocorresse depois de 1789, ou seja, depois da Revolução Francesa.’’ (p.9).

A afirmação denota a forte influência das percepções europeias na historiografia, porém não se trata de uma discussão a qual o autor se prende, uma vez que foge de sua proposta inicial. Dessa maneira, os dois primeiros capítulos do livro se debruçam sobre as movimentações políticas e econômicas realizadas a partir dos anos 1920, dando ênfase à crise de 1929 e seus reflexos nos Estados Unidos e na Europa, ao desenvolvimento das ideologias nazifascistas e stalinista e, posteriormente, à Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Acerca deste evento, Marcos Napolitano apresenta uma interessante compreensão sobre a elaboração de diferentes memórias em seu entorno e de como ela abarcou diversos conflitos políticos, destacando‘’[…] três tipos de guerras em curso, que muitas vezes se confundiram’’: uma guerra entre as potências imperialistas, outra de caráter colonial, na qual buscava-se não apenas o domínio mas também a subjugação e o extermínio de grupos tidos como ‘’inferiores’’, e uma terceira, apontada como ‘’uma guerra civil com envolvimento internacional’’ (p. 57).

Ao longo do terceiro capítulo o autor explora a temática da Guerra Fria, a polarização mundial entre dois grandes blocos (o capitalista e o socialista), e seus reflexos tanto em território europeu quanto em países do continente americano, com especial destaque para as políticas adotadas contra o comunismo nos Estados Unidos. Neste ponto, o autor apresenta uma discussão sobre o impacto desse evento nas produções culturais do período, afirmando que a “perseguição por motivos ideológicos chegou a abalar a indústria cinematográfica norte-americana [instrumento] fundamental para a propaganda de massa” (p. 70).

No desenvolvimento do processo de apresentação e argumentação da temática que se desdobra em questões como a corrida nuclear e a “Doutrina de Segurança Nacional”, desenvolvida pelos EUA em combate ao comunismo, o autor rapidamente atenta para as suas reverberações na política brasileira, embora não se detenha muito no assunto. Contudo, é relevante destacar que a opção adotada pelo autor de direcionar as atenções às movimentações político-ideológicas em países distintos (desde a União das Repúblicas Soviéticas (URSS), passando pela China e a Revolução de 1949 que marcou a chegada dos comunistas ao poder chinês, até a situação de países latino-americanos em meio a esse complicado jogo de poder) ajudam o leitor a construir um panorama que, ao ligar tais informações, busca conceber uma história construída por eventos praticamente simultâneos que acabam por reverberar em diferentes contextos.

No capítulo seguinte, o foco é parcialmente deslocado das grandes potências imperialistas europeias para uma breve análise sobre as independências, principalmente da Índia e da então Indochina. O capítulo também trata do fim da colonização do que se convencionou chamar à época de “terceiro mundo”, conceituação consolidada a partir da Conferência de Bandung (1955) – responsável por reunir países que compartilhavam entre si o peso de um passado colonial refletido em seus contextos políticos e econômicos locais.

É relevante apontar que tendo citado no início do capítulo o tema das lutas pela descolonização em África, Marcos Napolitano discute o caráter plural desses eventos ao situá-los em países como África do Sul, Angola e Moçambique. Em geral, o autor faz um grande apanhado de importantes e complexos eventos que marcaram os combates pelo fim do colonialismo ao redor do mundo em um misto de instabilidade, violência e tentativa de autoafirmação para introduzir, no capítulo posterior, um contraste ao voltar-se ao “mundo desenvolvido” (p.113). Um mundo que, de um lado, vivenciava o aumento do consumo de bens e prosperidade econômica e, de outro, encontrava as agitações desenvolvidas no desenrolar da década de 1960, mobilizadas por uma juventude que se põe a criticar o sistema e suas contradições.

Nesse sentido, o autor cita como principal exemplo a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, país que se apresentava como modelo de democracia, mas que ainda mantinha leis racistas e discriminatórias. É nesse período que o movimento estudantil toma força com estudantes engajados em pautas, além da já citada questão sobre os direitos civis, relacionadas às manifestações pelo fim da Guerra do Vietnã e pela liberdade individual. Assim, em determinado ponto da discussão o autor pontua, no caso de alguns países europeus, a tentativa de aproximação dos estudantes em relação ao movimento operário, algo que não obteve sucesso nos casos citados, em grande parte, por causa da diferença de objetivos e percepções entre os seus agentes.

Durante a década anterior, afirma Napolitano, os mais jovens passaram a ocupar um espaço maior na vida cultural, realizando compras de produtos como discos e revistas. Nessa perspectiva, a indústria cultural acompanha tais movimentações contribuindo para a construção de uma nova imagem acerca da juventude, como a que se manifesta de maneira “rebelde” aos valores conservadores.

Para o autor, a possibilidade experienciada por esses jovens de lidar de maneiras variadas com o mundo social atrela-se à lógica do capital difundida no período que tirava proveito do “consumo específico da juventude”, gerador de “bons lucros para as indústrias cinematográfica e fonográfica […]’’ (p. 116).

Moda Anos 60 foi marcada por rebeldia, liberdade e novos conceitos | Imagem: TudoEla

Na maioria dos capítulos, é perceptível a atenção do autor em evitar concepções essencializadas sobre movimentos e eventos, sempre buscando apresentar contrastes. Dessa maneira, após comentar sobre essa juventude estadunidense e europeia revolucionária, Napolitano desloca seu olhar para países da América Latina e do Leste europeu, apontando a força da “contestação política e da luta armada”, desenvolvida pelos jovens em seus respectivos países, como o México e a Argentina.

Progredindo em algumas pautas e fracassando no alcance de outras, é inegável, como pontua o próprio autor, a relevância dos movimentos estudantis da década de 1960, que fizeram reverberar as reivindicações não apenas em seus países, mas também ao redor do mundo no que diz respeito a discussões relacionadas às mulheres, à sexualidade e ao imperialismo no ‘’terceiro mundo’’.

Em tal direção, o autor apresenta no sexto e último capítulo um panorama da política e da economia em alguns lugares, após as transformações dos anos 1960. Tem-se o quadro de um mundo em contradição: utopias, antes alimentadas, confrontam-se à realidade das ditaturas, das inovações tecnológicas, crise e mudanças políticas, a exemplo da Revolução Iraniana, crise do petróleo e o aumento de preços.

Numa visão de conjunto, destacamos que a obra é, positivamente, construída a partir de contrastes do começo ao fim. Trata-se de um quadro montado com diferentes eventos e temporalidades. Se no começo tem-se o esboço de uma polarização mundial com dois blocos essencialmente distintos, próximo à conclusão encontramos o livro a desmontar, ao menos um deles, isto é, do bloco socialista representado pela União Soviética. Se por um lado o autor destaca a ruína do “sonho socialista” (p. 135), do outro também discute a violência das ditaduras de direita, o sucesso alcançado pelo setor voltado para o entretenimento, as políticas ultraliberais de governantes como Margaret Thatcher e Ronald Reagan, didaticamente expostas no livro.

Uma nota negativa é o emprego das ilustrações. Nesse aspecto, chama a atenção o uso pontual de mapas, muitas vezes próximo ao final dos capítulos, e a ausência de outras imagens que poderiam ser utilizadas como suporte ao leitor. Ao contrário, as indicações por capítulo de recursos fílmicos e de leituras complementares para que o leitor expanda as informações sobre os temas que lhe foram instigados são recursos positivos.

Por fim, destacamos que o autor é bem-sucedido no cumprimento dos objetivos traçados no início do livro, estabelecendo um diálogo que busca abarcar não apenas uma ampla temporalidade, mas também direcionando o foco da discussão para a experiência da América Latina e da África. Além disso, deixa claro que os avanços e os retrocessos ocorridos ao longo do século XX não desapareceram quando o século seguinte começou.

Sumário de História Contemporânea: Vol. 2 – do entreguerras à nova ordem mundial

  • Introdução
  • “Viva a morte”: o mundo em vertigem no entreguerras
  • Entre as ruínas, outros homens surgem”: Segunda Guerra Mundial e a reconstrução moral e material do mundo
  • “A era atômica”: a Guerra Fria, entre o local e o global
  • “O Terceiro Mundo vai explodir”: a descolonização e a luta pela autonomia nacional
  • “Corra, camarada, o Velho Mundo quer te pegar”: os anos 1960 e a revolução cultural da juentude
  • Do “fim dos 30 gloriosos” à Terceira Revolução Industrial: rumo à globalização
  • Considerações finais

Para ampliar a sua revisão da literatura


Resenhista

Joyce Ferreira Sousa – Graduanda em História pela Universidade Regional do Cariri, bolsista de Iniciação Científica no projeto “Geopark Araripe: Natureza, Educação Ambiental e Identidade”. Publicou “Geopark Araripe: ações de educação ambiental e construção de uma identidade para o Cariri cearense” (2021) e “Do som ao músico: a narrativa musical como ferramenta cultural” (2021). ID LATTES: http://lattes.cnpq.br/1021917899302316; ID ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0139-2857.x; Instagram: @jsferreirac; Email: [email protected].


Para citar esta resenha

NAPOLITANO, Marcos. História Contemporânea: Vol. 2 – do entreguerras à nova ordem mundial. São Paulo: Contexto, 2020. 160p. Resenha de: SOUSA, Joyce Ferreira. Conturbado século XX. Crítica Historiográfica. Natal, v.2, n.8, nov./dez., 2022. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/conturbado-seculo-xx-resenha-de-historia-contemporanea-vol-2-do-entreguerras-a-nova-ordem-mundial-de-marcos-napolitano/>. DOI: 10.29327/254374.2.8-7


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.2, n. 8, nov./dez., 2022 | ISSN 2764-2666

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Conturbado século XX – Resenha de “História Contemporânea 2 – do entreguerras à nova ordem mundial”, de Marcos Napolitano

Resenhado por Joyce Ferreira Sousa (URCA) | ID Orcid: https://orcid.org/0000-0002-0139-2857.

Marcos Napolitano | Imagem: Carta Campinas

Com uma linguagem que se propõe clara e simples, Marcos Napolitano desenvolve no livro História contemporânea: Vol. 2: do entreguerras à ordem mundial uma relevante apresentação sobre os eventos que abalaram o mundo ao longo do século XX. Sua periodização abarca dos anos 1920 até meados do século XXI, em uma transparente percepção da existência de eventos de longa duração que não se encerraram com o apagar das luzes do século XX. Nesse sentido, a obra se encontra dividida em seis capítulos que se desdobram em subtópicos específicos que vão desde a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, passando pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945), até chegar aos vários conflitos ocorridos ao redor do mundo após o fim da Guerra Fria (1947-1991).

De modo imediato, o autor apresenta ao leitor uma sucinta, porém elucidativa, discussão sobre as movimentações e escolhas teórico-metodológicas tomadas em relação ao que se convencionou chamar de História Contemporânea, buscando explicitar o seu significado ao longo desse processo. Se no século XIX, quando a História dava seus primeiros passos enquanto disciplina em busca de legitimação científica, foi proposto o afastamento por parte do historiador dos acontecimentos de seu presente, garantindo assim uma pretensa neutralidade em sua análise, no final do mesmo “convencionou-se chamar de ‘História Contemporânea’ o estudo de tudo que ocorresse depois de 1789, ou seja, depois da Revolução Francesa.’’ (p.9).

A afirmação denota a forte influência das percepções europeias na historiografia, porém não se trata de uma discussão a qual o autor se prende, uma vez que foge de sua proposta inicial. Dessa maneira, os dois primeiros capítulos do livro se debruçam sobre as movimentações políticas e econômicas realizadas a partir dos anos 1920, dando ênfase à crise de 1929 e seus reflexos nos Estados Unidos e na Europa, ao desenvolvimento das ideologias nazifascistas e stalinista e, posteriormente, à Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Acerca deste evento, Marcos Napolitano apresenta uma interessante compreensão sobre a elaboração de diferentes memórias em seu entorno e de como ela abarcou diversos conflitos políticos, destacando‘’[…] três tipos de guerras em curso, que muitas vezes se confundiram’’: uma guerra entre as potências imperialistas, outra de caráter colonial, na qual buscava-se não apenas o domínio mas também a subjugação e o extermínio de grupos tidos como ‘’inferiores’’, e uma terceira, apontada como ‘’uma guerra civil com envolvimento internacional’’ (p. 57).

Ao longo do terceiro capítulo o autor explora a temática da Guerra Fria, a polarização mundial entre dois grandes blocos (o capitalista e o socialista), e seus reflexos tanto em território europeu quanto em países do continente americano, com especial destaque para as políticas adotadas contra o comunismo nos Estados Unidos. Neste ponto, o autor apresenta uma discussão sobre o impacto desse evento nas produções culturais do período, afirmando que a “perseguição por motivos ideológicos chegou a abalar a indústria cinematográfica norte-americana [instrumento] fundamental para a propaganda de massa” (p. 70).

No desenvolvimento do processo de apresentação e argumentação da temática que se desdobra em questões como a corrida nuclear e a “Doutrina de Segurança Nacional”, desenvolvida pelos EUA em combate ao comunismo, o autor rapidamente atenta para as suas reverberações na política brasileira, embora não se detenha muito no assunto. Contudo, é relevante destacar que a opção adotada pelo autor de direcionar as atenções às movimentações político-ideológicas em países distintos (desde a União das Repúblicas Soviéticas (URSS), passando pela China e a Revolução de 1949 que marcou a chegada dos comunistas ao poder chinês, até a situação de países latino-americanos em meio a esse complicado jogo de poder) ajudam o leitor a construir um panorama que, ao ligar tais informações, busca conceber uma história construída por eventos praticamente simultâneos que acabam por reverberar em diferentes contextos.

No capítulo seguinte, o foco é parcialmente deslocado das grandes potências imperialistas europeias para uma breve análise sobre as independências, principalmente da Índia e da então Indochina. O capítulo também trata do fim da colonização do que se convencionou chamar à época de “terceiro mundo”, conceituação consolidada a partir da Conferência de Bandung (1955) – responsável por reunir países que compartilhavam entre si o peso de um passado colonial refletido em seus contextos políticos e econômicos locais.

É relevante apontar que tendo citado no início do capítulo o tema das lutas pela descolonização em África, Marcos Napolitano discute o caráter plural desses eventos ao situá-los em países como África do Sul, Angola e Moçambique. Em geral, o autor faz um grande apanhado de importantes e complexos eventos que marcaram os combates pelo fim do colonialismo ao redor do mundo em um misto de instabilidade, violência e tentativa de autoafirmação para introduzir, no capítulo posterior, um contraste ao voltar-se ao “mundo desenvolvido” (p.113). Um mundo que, de um lado, vivenciava o aumento do consumo de bens e prosperidade econômica e, de outro, encontrava as agitações desenvolvidas no desenrolar da década de 1960, mobilizadas por uma juventude que se põe a criticar o sistema e suas contradições.

Nesse sentido, o autor cita como principal exemplo a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, país que se apresentava como modelo de democracia, mas que ainda mantinha leis racistas e discriminatórias. É nesse período que o movimento estudantil toma força com estudantes engajados em pautas, além da já citada questão sobre os direitos civis, relacionadas às manifestações pelo fim da Guerra do Vietnã e pela liberdade individual. Assim, em determinado ponto da discussão o autor pontua, no caso de alguns países europeus, a tentativa de aproximação dos estudantes em relação ao movimento operário, algo que não obteve sucesso nos casos citados, em grande parte, por causa da diferença de objetivos e percepções entre os seus agentes.

Durante a década anterior, afirma Napolitano, os mais jovens passaram a ocupar um espaço maior na vida cultural, realizando compras de produtos como discos e revistas. Nessa perspectiva, a indústria cultural acompanha tais movimentações contribuindo para a construção de uma nova imagem acerca da juventude, como a que se manifesta de maneira “rebelde” aos valores conservadores.

Para o autor, a possibilidade experienciada por esses jovens de lidar de maneiras variadas com o mundo social atrela-se à lógica do capital difundida no período que tirava proveito do “consumo específico da juventude”, gerador de “bons lucros para as indústrias cinematográfica e fonográfica […]’’ (p. 116).

Moda Anos 60 foi marcada por rebeldia, liberdade e novos conceitos | Imagem: TudoEla

Na maioria dos capítulos, é perceptível a atenção do autor em evitar concepções essencializadas sobre movimentos e eventos, sempre buscando apresentar contrastes. Dessa maneira, após comentar sobre essa juventude estadunidense e europeia revolucionária, Napolitano desloca seu olhar para países da América Latina e do Leste europeu, apontando a força da “contestação política e da luta armada”, desenvolvida pelos jovens em seus respectivos países, como o México e a Argentina.

Progredindo em algumas pautas e fracassando no alcance de outras, é inegável, como pontua o próprio autor, a relevância dos movimentos estudantis da década de 1960, que fizeram reverberar as reivindicações não apenas em seus países, mas também ao redor do mundo no que diz respeito a discussões relacionadas às mulheres, à sexualidade e ao imperialismo no ‘’terceiro mundo’’.

Em tal direção, o autor apresenta no sexto e último capítulo um panorama da política e da economia em alguns lugares, após as transformações dos anos 1960. Tem-se o quadro de um mundo em contradição: utopias, antes alimentadas, confrontam-se à realidade das ditaturas, das inovações tecnológicas, crise e mudanças políticas, a exemplo da Revolução Iraniana, crise do petróleo e o aumento de preços.

Numa visão de conjunto, destacamos que a obra é, positivamente, construída a partir de contrastes do começo ao fim. Trata-se de um quadro montado com diferentes eventos e temporalidades. Se no começo tem-se o esboço de uma polarização mundial com dois blocos essencialmente distintos, próximo à conclusão encontramos o livro a desmontar, ao menos um deles, isto é, do bloco socialista representado pela União Soviética. Se por um lado o autor destaca a ruína do “sonho socialista” (p. 135), do outro também discute a violência das ditaduras de direita, o sucesso alcançado pelo setor voltado para o entretenimento, as políticas ultraliberais de governantes como Margaret Thatcher e Ronald Reagan, didaticamente expostas no livro.

Uma nota negativa é o emprego das ilustrações. Nesse aspecto, chama a atenção o uso pontual de mapas, muitas vezes próximo ao final dos capítulos, e a ausência de outras imagens que poderiam ser utilizadas como suporte ao leitor. Ao contrário, as indicações por capítulo de recursos fílmicos e de leituras complementares para que o leitor expanda as informações sobre os temas que lhe foram instigados são recursos positivos.

Por fim, destacamos que o autor é bem-sucedido no cumprimento dos objetivos traçados no início do livro, estabelecendo um diálogo que busca abarcar não apenas uma ampla temporalidade, mas também direcionando o foco da discussão para a experiência da América Latina e da África. Além disso, deixa claro que os avanços e os retrocessos ocorridos ao longo do século XX não desapareceram quando o século seguinte começou.

Sumário de História Contemporânea: Vol. 2 – do entreguerras à nova ordem mundial

  • Introdução
  • “Viva a morte”: o mundo em vertigem no entreguerras
  • Entre as ruínas, outros homens surgem”: Segunda Guerra Mundial e a reconstrução moral e material do mundo
  • “A era atômica”: a Guerra Fria, entre o local e o global
  • “O Terceiro Mundo vai explodir”: a descolonização e a luta pela autonomia nacional
  • “Corra, camarada, o Velho Mundo quer te pegar”: os anos 1960 e a revolução cultural da juentude
  • Do “fim dos 30 gloriosos” à Terceira Revolução Industrial: rumo à globalização
  • Considerações finais

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Joyce Ferreira Sousa – Graduanda em História pela Universidade Regional do Cariri, bolsista de Iniciação Científica no projeto “Geopark Araripe: Natureza, Educação Ambiental e Identidade”. Publicou “Geopark Araripe: ações de educação ambiental e construção de uma identidade para o Cariri cearense” (2021) e “Do som ao músico: a narrativa musical como ferramenta cultural” (2021). ID LATTES: http://lattes.cnpq.br/1021917899302316; ID ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0139-2857.x; Instagram: @jsferreirac; Email: [email protected].


Para citar esta resenha

NAPOLITANO, Marcos. História Contemporânea: Vol. 2 – do entreguerras à nova ordem mundial. São Paulo: Contexto, 2020. 160p. Resenha de: SOUSA, Joyce Ferreira. Conturbado século XX. Crítica Historiográfica. Natal, v.2, n.8, nov./dez., 2022. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/conturbado-seculo-xx-resenha-de-historia-contemporanea-vol-2-do-entreguerras-a-nova-ordem-mundial-de-marcos-napolitano/>. DOI: 10.29327/254374.2.8-7


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.2, n. 8, nov./dez., 2022 | ISSN 2764-2666

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