Denunciando o preconceito racial – Resenha de Sidinara dos Santos Querino (UFS) sobre “O pacto da branquitude”, de Cida Bento

Cida Bento | Imagem: Geledés

ResumoO pacto da branquitude, publicado pela Companhia das Letras, em 2022, denuncia o “capitalismo racial”, o “racismo estrutural” a “meritocracia” e a “masculinidade branca”. O livro reúne dez estudos sobre como os brancos recusaram currículos de pessoas pretas e punham pessoas brancas nesses lugares de hierarquias. Esse tipo de atitude foi responsável por perpetuar, em silêncio, pactos que mantêm os brancos no poder. A autora, Cida Bento, é uma mulher negra, doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) e fundadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT).

Palavras-chave: Racismo Estrutural, Branquitude, Meritocracia.

Abstract:  | The whiteness pact, published by Companhia das Letras, in 2022, denounces “racial capitalism”, “structural racism”, “meritocracy” and “white masculinity”. The book brings together ten studies on how white people refused the CVs of black people and put white people in these places of hierarchies. This type of attitude was responsible for perpetuating, in silence, pacts that keep whites in power. The author, Cida Bento, is a black woman, PhD in Psychology from the University of São Paulo (USP) and founder of the Center for the Study of Labor Relations and Inequalities (CEERT).

Keywords: Structural Racism, Whiteness, Meritocracy.

Denouncing racial prejudice – Sidinara dos Santos Querino’s review of The Whiteness Pact by Cida Bento


O pacto da branquitude chama a atenção pelo título, principalmente dos que se interessam por sociais contemporâneos. Já na introdução, mostra o seu objeto de estudo que são os pactos pela branquitude, com o objetivo de identificar como essa branquitude se mantém no poder.  Desde criança, Bento percebia a diferença entre negros e brancos na escola, posteriormente sentiu essa diferença ao procurar empregos e receber recusas, apesar de qualificada. Notou o mesmo com sua família, seus irmãos igualmente pretos e graduados. A partir de suas vivências, decidiu dar ouvidos às suas inquietações e estudar a fundo o porquê da exclusão, se tornou psicóloga organizacional e recrutadora.

Nos primeiros três capítulos, intitulados respectivamente: “Pacto Narcísico”, “Branquitude e Colonização Europeia” e “Capitalismo Racial”, Cida Bento há organicidade e objetividade na identificação dos autores que usou como base para as suas pesquisas. Sobre o que seria cada tema e como eles se ligam, ela revela um denominador comum: a branquitude e os pactos narcísicos mantém uma estrutura de dominação e poder acerca do ‘que é caracterizado como o outro, os não brancos, os não universais. No capítulo primeiro, a partir das suas vivências em instituições públicas e privadas, a autora declara que que tanto as lideranças como a maioria das pessoas que compõem o quadro de funcionários são formados por pessoas brancas. Apesar de essas instituições publicizarem discursos em prol da diversidade e igualdade, os seus responsáveis apresentam justificativas insustentáveis, como a meritocracia. Eles só demonstram o racismo e a autoproteção que mantém as estruturas quase inalteradas durante gerações. Esse seria o pacto narcísico da branquitude, que é silencioso, porém ensurdecedor para as populações não brancas. Nesse sentido, não há como falar da branquitude sem voltar um pouco no tempo e mostrar que a branquitude foi formada historicamente por invasões ou, como gostam de usar, expansões e colonizações Europeias sobre  as populações não brancas: indígenas e pretas, o outro, os bárbaros, em síntese, os não universais. A branquitude herdeira, por sua vez, se perpetua privilégios atualmente, como a autora demonstra no segundo capítulo dois. No terceiro, a autora fecha esse enredo falando do capitalismo, demonstrando que não é só um sistema econômico, mas um sistema econômico racial que lucrou e lucra bastante com as populações não brancas. A força do seu trabalho mal remunerado ou escravo é a tomada de terras dessas populações. Além disso, a autora trata da importância de romper as alianças que mantém a estrutura do capitalismo racial e já anuncia o elemento que ligará os próximos capítulos: a supremacia branca e regimes autoritários.

Os três capítulos seguintes são intitulados, respectivamente: “Personalidade Autoritária, Masculinidade Branca e Nacionalismo”, “O Campo de Estudos Sobre a Branquitude” e “Racismo Institucional”. A meta implícita desses textos é demonstrar a estrutura da branquitude, que é, ao mesmo tempo, histórica, econômica e de repressão. No quarto capítulo, Bento declara que uma parcela dos cidadãos se identifica com o autoritarismo e discursos fascistas, uma vez que projetam novamente o “nós e eles”, e tudo que é ruim é o outro. Além disso, toca em um ponto importante que é a repressão e a violência por parte da polícia e do judiciário (em sua maioria também formados por brancos) com os “não iguais”, que se empenha em punir  crimes menores da população preta, enquanto os chamados de crime de colarinho branco, raramente o são (a autoproteção). A masculinidade e o nacionalismo também são destacados, pois projetam em figuras violentas e autoritárias todo o significado de poder e força e, até, de práticas e valores antidemocráticos. Já no quinto capítulo, a autora periodiza os estudos sobre a branquitude em três ondas. A primeira corresponde ao prazer da branquitude de não ser comparada aos negros e manter algum privilégio. A segunda mostra o racismo nas instituições que segregam e distribuem privilégios. A terceira onda seria marcada pela reivindicação da população preta e pelos brancos que se sentem ameaçados pelo recente protagonismo (vitimização branca). No capítulo seguinte, o sexto, a autora aborda o racismo institucional. Partindo de pesquisas, inclusive coordenadas no Centro de Estudos da Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), a investigação identifica a ocorrência do racismo nas instituições, principalmente no ato de contratar pessoas negras.

Os capítulos sétimo, oitavo e nono são intitulados: “O Caso das Mulheres”, “Enfrentamento dos Desafios: CEERT” e “Projetos de Informação”. Eles demonstram como era e são os trabalhos das mulheres, da época da escravidão até os dias atuais, os direitos conquistados, a criação do CEERT e o apoio dos familiares negros e comunidade negra ao projeto que buscava desmistificar a ideia de que o Brasil era um país de igualdade racial. No sétimo capítulo, a autora expõe a situação das empregadas domésticas. Sendo em maioria mulheres negras (mesmo após muitos anos da abolição), elas permanecem na situação de servidão, de cuidadoras da “casa grande”, recebendo tratamento quase semelhante à época amarga e cruel da escravidão. Ela ressalta que a conquista desses direitos incomodou a branquitude. No capítulo seguinte, a autora trata da emergência do CEERT, que denunciou as desigualdades raciais existentes no Brasil. Sua criadora, a própria Cida Bento, demostrou que era necessário ter dados de raça na contratação e vagas destinadas às pessoas pretas para as inserir e verificar se de fato existia equidade nas instituições e organizações público e privada.

O capítulo nono trata dos projetos de inserção de pessoas negras em instituições e em cargos de poder, para tornem as empresas mais diversas e promova a justiça social e equidade. Porém, ela deixa claro que é um desafio, uma vez que as pessoas brancas são vistas como “universais” e respondem com medo, raiva e violência à mudança nas hierarquias ou à contratação de pessoas pretas.

Negros no Poder Judiciário | Arte: Ygor Nascimento/Geledés

O último capítulo, o décimo, é designado “O Momento Presente”. Nele, autora trata do momento em que seu livro foi escrito (2019). O ano em que a extrema direita e a branquitude assumem o poder e derrubam vários direitos trabalhistas. Nessa parte, ela argumenta que branquitude nunca quer o bem comum. Ela quer se manter no poder. Brancos se veem como conquistadores e esquecem que a sua história é marcada pela apropriação e destruição de outras culturas. Esquecem, ainda, que essa autoestima de vencedores os coloca na posição acreditar na legitimidade da sua presença majoritária na economia, na política etc. Em contrapartida, a população negra é vista como descendente de escravos (os perdedores), sendo culpabilizados por sua condição. Ao final, ela lembra que os pactos narcísicos da branquitude são acordos, acordos não verbalizados, coletivos. Nesse sentido a autora vê os coletivos que buscam escancarar o racismo como um modo de desmantelar esse sistema as instituições.

Ao longo deste livro a autora buscou mostrar os pactos da branquitude e a estrutura racista que compõe a relações sociais no Brasil. Desse modo, trouxe para o contexto da obra, repertórios históricos e políticos, exemplos de filósofos e ativistas, que dão validade a seu discurso e investigação, sustentando a tese de que os acordos da branquitude são realidade em continua manutenção. Apesar de a autora descrever os contextos e alguns conceitos usados para provar seus argumentos, a obra é densa para quem não domina um pouco de história do Brasil, relações políticas e questões raciais. A saída para esse público é reler trechos e pesquisar alguns assuntos. No entanto, o livro cumpriu o que prometeu do início ao fim, trazendo várias reflexões, e exemplos realistas para o entendimento da estrutura racista e dos pactos silenciosos em favor da branquitude no país. Além disso, aponta soluções para combater esses problemas, construindo uma agenda de lutas, das quais destaco: a organização política e internacional para o combate do racismo e intervenções políticas nas estruturas da sociedade. Somente assim, será possível incluir as pessoas negras no quadro de funcionários e nas hierarquias. Será preciso muito ativismo e muita luta contra as estruturas denunciadas neste livro.

Sumário de O pacto da branquitude

  • Introdução
  • 1. O Pacto narcísico
  • 2. Branquitude e colonização europeia
  • 3. Capitalismo racial
  • 4. Personalidade autoritária, masculinidade branca e nacionalismo
  • 5. O campo de estudos sobre branquitude
  • 6. Racismo institucional
  • 7. O caso das Mulheres
  • 8. Enfrentando os desafios: CEERT
  • 9. Projetos de transformação
  • 10. O momento presente
  • Epílogo: Exercitando a mudança – Vidas negras importam

Para ampliar a sua revisão da literatura


Resenhista

Sidinara dos Santos Querino  é graduanda em História na Universidade Federal de Sergipe (UFS) e estagiária no Centro de Excelência Professora Maria Ivanda de Carvalho Nascimento. ID LATTES:  http://lattes.cnpq.br/8429119158010568; ID ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2764-3471; Redes sociais: Instagram @nara_querino; E-mail: [email protected].

 


Para citar essa resenha

BENTO, Cida. O pacto da branquitude. São Paulo: Companhia das Letras, 2022. 152p.. Resenha de: QUERINO, Sidnara dos Santos. Denunciando o preconceito racial. Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n.9, jan./fev. 2023. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/denunciando-o-preconceito-racial-resenha-de-o-pacto-da-branquitude-de-cida-bento/>. DOI: 10.29327/254374.3.9-5


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n. 9, jan./fev., 2023 | ISSN 2764-2666

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Denunciando o preconceito racial – Resenha de Sidinara dos Santos Querino (UFS) sobre “O pacto da branquitude”, de Cida Bento

Cida Bento | Imagem: Geledés

ResumoO pacto da branquitude, publicado pela Companhia das Letras, em 2022, denuncia o “capitalismo racial”, o “racismo estrutural” a “meritocracia” e a “masculinidade branca”. O livro reúne dez estudos sobre como os brancos recusaram currículos de pessoas pretas e punham pessoas brancas nesses lugares de hierarquias. Esse tipo de atitude foi responsável por perpetuar, em silêncio, pactos que mantêm os brancos no poder. A autora, Cida Bento, é uma mulher negra, doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) e fundadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT).

Palavras-chave: Racismo Estrutural, Branquitude, Meritocracia.

Abstract:  | The whiteness pact, published by Companhia das Letras, in 2022, denounces “racial capitalism”, “structural racism”, “meritocracy” and “white masculinity”. The book brings together ten studies on how white people refused the CVs of black people and put white people in these places of hierarchies. This type of attitude was responsible for perpetuating, in silence, pacts that keep whites in power. The author, Cida Bento, is a black woman, PhD in Psychology from the University of São Paulo (USP) and founder of the Center for the Study of Labor Relations and Inequalities (CEERT).

Keywords: Structural Racism, Whiteness, Meritocracy.

Denouncing racial prejudice – Sidinara dos Santos Querino’s review of The Whiteness Pact by Cida Bento


O pacto da branquitude chama a atenção pelo título, principalmente dos que se interessam por sociais contemporâneos. Já na introdução, mostra o seu objeto de estudo que são os pactos pela branquitude, com o objetivo de identificar como essa branquitude se mantém no poder.  Desde criança, Bento percebia a diferença entre negros e brancos na escola, posteriormente sentiu essa diferença ao procurar empregos e receber recusas, apesar de qualificada. Notou o mesmo com sua família, seus irmãos igualmente pretos e graduados. A partir de suas vivências, decidiu dar ouvidos às suas inquietações e estudar a fundo o porquê da exclusão, se tornou psicóloga organizacional e recrutadora.

Nos primeiros três capítulos, intitulados respectivamente: “Pacto Narcísico”, “Branquitude e Colonização Europeia” e “Capitalismo Racial”, Cida Bento há organicidade e objetividade na identificação dos autores que usou como base para as suas pesquisas. Sobre o que seria cada tema e como eles se ligam, ela revela um denominador comum: a branquitude e os pactos narcísicos mantém uma estrutura de dominação e poder acerca do ‘que é caracterizado como o outro, os não brancos, os não universais. No capítulo primeiro, a partir das suas vivências em instituições públicas e privadas, a autora declara que que tanto as lideranças como a maioria das pessoas que compõem o quadro de funcionários são formados por pessoas brancas. Apesar de essas instituições publicizarem discursos em prol da diversidade e igualdade, os seus responsáveis apresentam justificativas insustentáveis, como a meritocracia. Eles só demonstram o racismo e a autoproteção que mantém as estruturas quase inalteradas durante gerações. Esse seria o pacto narcísico da branquitude, que é silencioso, porém ensurdecedor para as populações não brancas. Nesse sentido, não há como falar da branquitude sem voltar um pouco no tempo e mostrar que a branquitude foi formada historicamente por invasões ou, como gostam de usar, expansões e colonizações Europeias sobre  as populações não brancas: indígenas e pretas, o outro, os bárbaros, em síntese, os não universais. A branquitude herdeira, por sua vez, se perpetua privilégios atualmente, como a autora demonstra no segundo capítulo dois. No terceiro, a autora fecha esse enredo falando do capitalismo, demonstrando que não é só um sistema econômico, mas um sistema econômico racial que lucrou e lucra bastante com as populações não brancas. A força do seu trabalho mal remunerado ou escravo é a tomada de terras dessas populações. Além disso, a autora trata da importância de romper as alianças que mantém a estrutura do capitalismo racial e já anuncia o elemento que ligará os próximos capítulos: a supremacia branca e regimes autoritários.

Os três capítulos seguintes são intitulados, respectivamente: “Personalidade Autoritária, Masculinidade Branca e Nacionalismo”, “O Campo de Estudos Sobre a Branquitude” e “Racismo Institucional”. A meta implícita desses textos é demonstrar a estrutura da branquitude, que é, ao mesmo tempo, histórica, econômica e de repressão. No quarto capítulo, Bento declara que uma parcela dos cidadãos se identifica com o autoritarismo e discursos fascistas, uma vez que projetam novamente o “nós e eles”, e tudo que é ruim é o outro. Além disso, toca em um ponto importante que é a repressão e a violência por parte da polícia e do judiciário (em sua maioria também formados por brancos) com os “não iguais”, que se empenha em punir  crimes menores da população preta, enquanto os chamados de crime de colarinho branco, raramente o são (a autoproteção). A masculinidade e o nacionalismo também são destacados, pois projetam em figuras violentas e autoritárias todo o significado de poder e força e, até, de práticas e valores antidemocráticos. Já no quinto capítulo, a autora periodiza os estudos sobre a branquitude em três ondas. A primeira corresponde ao prazer da branquitude de não ser comparada aos negros e manter algum privilégio. A segunda mostra o racismo nas instituições que segregam e distribuem privilégios. A terceira onda seria marcada pela reivindicação da população preta e pelos brancos que se sentem ameaçados pelo recente protagonismo (vitimização branca). No capítulo seguinte, o sexto, a autora aborda o racismo institucional. Partindo de pesquisas, inclusive coordenadas no Centro de Estudos da Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), a investigação identifica a ocorrência do racismo nas instituições, principalmente no ato de contratar pessoas negras.

Os capítulos sétimo, oitavo e nono são intitulados: “O Caso das Mulheres”, “Enfrentamento dos Desafios: CEERT” e “Projetos de Informação”. Eles demonstram como era e são os trabalhos das mulheres, da época da escravidão até os dias atuais, os direitos conquistados, a criação do CEERT e o apoio dos familiares negros e comunidade negra ao projeto que buscava desmistificar a ideia de que o Brasil era um país de igualdade racial. No sétimo capítulo, a autora expõe a situação das empregadas domésticas. Sendo em maioria mulheres negras (mesmo após muitos anos da abolição), elas permanecem na situação de servidão, de cuidadoras da “casa grande”, recebendo tratamento quase semelhante à época amarga e cruel da escravidão. Ela ressalta que a conquista desses direitos incomodou a branquitude. No capítulo seguinte, a autora trata da emergência do CEERT, que denunciou as desigualdades raciais existentes no Brasil. Sua criadora, a própria Cida Bento, demostrou que era necessário ter dados de raça na contratação e vagas destinadas às pessoas pretas para as inserir e verificar se de fato existia equidade nas instituições e organizações público e privada.

O capítulo nono trata dos projetos de inserção de pessoas negras em instituições e em cargos de poder, para tornem as empresas mais diversas e promova a justiça social e equidade. Porém, ela deixa claro que é um desafio, uma vez que as pessoas brancas são vistas como “universais” e respondem com medo, raiva e violência à mudança nas hierarquias ou à contratação de pessoas pretas.

Negros no Poder Judiciário | Arte: Ygor Nascimento/Geledés

O último capítulo, o décimo, é designado “O Momento Presente”. Nele, autora trata do momento em que seu livro foi escrito (2019). O ano em que a extrema direita e a branquitude assumem o poder e derrubam vários direitos trabalhistas. Nessa parte, ela argumenta que branquitude nunca quer o bem comum. Ela quer se manter no poder. Brancos se veem como conquistadores e esquecem que a sua história é marcada pela apropriação e destruição de outras culturas. Esquecem, ainda, que essa autoestima de vencedores os coloca na posição acreditar na legitimidade da sua presença majoritária na economia, na política etc. Em contrapartida, a população negra é vista como descendente de escravos (os perdedores), sendo culpabilizados por sua condição. Ao final, ela lembra que os pactos narcísicos da branquitude são acordos, acordos não verbalizados, coletivos. Nesse sentido a autora vê os coletivos que buscam escancarar o racismo como um modo de desmantelar esse sistema as instituições.

Ao longo deste livro a autora buscou mostrar os pactos da branquitude e a estrutura racista que compõe a relações sociais no Brasil. Desse modo, trouxe para o contexto da obra, repertórios históricos e políticos, exemplos de filósofos e ativistas, que dão validade a seu discurso e investigação, sustentando a tese de que os acordos da branquitude são realidade em continua manutenção. Apesar de a autora descrever os contextos e alguns conceitos usados para provar seus argumentos, a obra é densa para quem não domina um pouco de história do Brasil, relações políticas e questões raciais. A saída para esse público é reler trechos e pesquisar alguns assuntos. No entanto, o livro cumpriu o que prometeu do início ao fim, trazendo várias reflexões, e exemplos realistas para o entendimento da estrutura racista e dos pactos silenciosos em favor da branquitude no país. Além disso, aponta soluções para combater esses problemas, construindo uma agenda de lutas, das quais destaco: a organização política e internacional para o combate do racismo e intervenções políticas nas estruturas da sociedade. Somente assim, será possível incluir as pessoas negras no quadro de funcionários e nas hierarquias. Será preciso muito ativismo e muita luta contra as estruturas denunciadas neste livro.

Sumário de O pacto da branquitude

  • Introdução
  • 1. O Pacto narcísico
  • 2. Branquitude e colonização europeia
  • 3. Capitalismo racial
  • 4. Personalidade autoritária, masculinidade branca e nacionalismo
  • 5. O campo de estudos sobre branquitude
  • 6. Racismo institucional
  • 7. O caso das Mulheres
  • 8. Enfrentando os desafios: CEERT
  • 9. Projetos de transformação
  • 10. O momento presente
  • Epílogo: Exercitando a mudança – Vidas negras importam

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Resenhista

Sidinara dos Santos Querino  é graduanda em História na Universidade Federal de Sergipe (UFS) e estagiária no Centro de Excelência Professora Maria Ivanda de Carvalho Nascimento. ID LATTES:  http://lattes.cnpq.br/8429119158010568; ID ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2764-3471; Redes sociais: Instagram @nara_querino; E-mail: [email protected].

 


Para citar essa resenha

BENTO, Cida. O pacto da branquitude. São Paulo: Companhia das Letras, 2022. 152p.. Resenha de: QUERINO, Sidnara dos Santos. Denunciando o preconceito racial. Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n.9, jan./fev. 2023. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/denunciando-o-preconceito-racial-resenha-de-o-pacto-da-branquitude-de-cida-bento/>. DOI: 10.29327/254374.3.9-5


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n. 9, jan./fev., 2023 | ISSN 2764-2666

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