Discurso didático contra o racismo — Resenha de Lhais Isla Dantas Leite (UFS) sobre o livro “Pacto da Branquitude”, de Cida Bento

Cida Bento | Imagem: Geledés

Resumo: Pacto da Branquitude, de Cida Bento, publicado em 2022, aborda a discriminação racial no Brasil, analisando a supremacia branca e seus efeitos. A obra destaca-se pela linguagem acessível e foco em equidade racial e de gênero, e crítica o sistema, apesar de apresentar certas lacunas informativas.

Palavras-chave: Branquitude, Equidade Racial, Racismo.


Pacto da Branquitude é um livro publicado por Cida Bento que sintetiza algumas das principais questões presentes na trajetória da autora. Seu objetivo é compreender como pessoas negras são discriminadas no Brasil devido à sua cor, enquanto pessoas brancas são favorecidas pelo sistema por meio do pacto narcísico da branquitude — termo por ela cunhado em sua tese de doutorado em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP), em 2002. A obra foi publicada em 2022 pela Companhia das Letras.

O interesse acadêmico e o debate público sobre branquitude têm aumentado, conforme declara o Observatório da Branquitude (2022). O tema surgiu nos EUA com W. E. B. Du Bois e no Brasil com Guerreiro Ramos, em 1957. Embora ainda não utilizasse o termo “branquitude”, Ramos explora a “patologia social do ‘branco brasileiro'”. Cida Bento abordou a questão motivada por experiências pessoais de discriminação e por seu trabalho com recursos humanos. Ela é conselheira e uma das fundadoras do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert) e já atuou como professora na rede básica, recrutadora, chefe de seleção, e executiva de Recursos Humanos. Seu trabalho inclui a organização de livros como Psicologia Social do Racismo (2002) e Ação afirmativa e diversidade no trabalho (2002) e sua tese Pactos Narcísicos no Racismo (2002) sobre branquitude é pioneira no Brasil. O livro em questão é a expressão da vontade de a autora sintetizar as principais questões de sua trajetória, mantendo uma linguagem acessível (Santos, 2022). Isso se reflete na estrutura da obra: são dez capítulos, mais a introdução e o epílogo, totalizando 148 páginas em formato de livro de bolso.

Na introdução, Bento analisa as relações raciais no Brasil e a sua ligação com a supremacia branca. O argumento central é de que há um problema nas relações entre negros e brancos causado pela supremacia branca, manifestando-se na branquitude e resultando em desvantagens para os negros e privilégios para os brancos. Bento se utiliza da própria trajetória e de outras experiências como fio condutor para tornar a leitura mais fluida. Segundo Ana Oliveira (2020, p.95), o uso de uma linguagem acessível caracteriza a descolonização do conhecimento e oferece uma alternativa discursiva que pode gerar caminhos para a ampliação dos públicos leitores e não barreiras para o acesso ao conhecimento.

No primeiro e segundo capítulos, a autora apresenta o campo de estudo da branquitude. Inicialmente, explica o conceito de “pactos narcísicos da branquitude”: um acordo não verbalizado entre pessoas brancas que mantêm seu poder na sociedade, resultando em exclusão e privilégios. Ela destacando como a supremacia branca disfarça ao longo da história o mito da meritocracia e perpetua os efeitos negativos da escravidão. Em seguida, explora a construção da branquitude, declarando que a colonização europeia impôs a identidade europeia como universal. A autora descreve o campo acadêmico da branquitude e apresenta as três ondas dos estudos críticos nos Estados Unidos. Por fim, anuncia as mais recentes produções sobre a temática da branquitude no Brasil, citando autores como: Lourenço Cardoso e Lia Vainer Schucman.

Nesses primeiros capítulos, a autora utiliza recursos linguísticos para tornar a leitura mais envolvente e atrativa, incluindo o uso de ironia e exemplos intercalados com explicações teóricas. No entanto, há lacunas de informação (inevitáveis, considerando o gênero didático), como a referência historiográfica para a Lei do Ventre Livre.

Nos terceiro capítulo, a autora aborda o conceito de “capitalismo racial”, que se baseia na exploração das lógicas de raça, etnia e gênero, para expropriar o trabalho e os meios de produção. O capitalismo racial cria as condições de expropriação de riquezas e a brutalidade que sustentam o sistema. A consequência dessa condição é a criação de narrativas hegemônicas eurocêntricas que escolhem o que será lembrado e o que será esquecido. Vem daí a importância da ação dos coletivos negros. Nesse segmento, contudo, a autora inverte a lógica de causa e consequência sem explicitar claramente essa relação, deixando a tarefa para o leitor mais atento.

No quarto capítulo, a autora explora a conexão entre os conceitos de “personalidade autoritária”, “masculinidade branca” e “nacionalismo”. Ela afirma que a teoria da personalidade autoritária é caracterizada pelo etnocentrismo e pela criação de inimigos, que se alinha à masculinidade branca e ao nacionalismo. Essas figuras de poder corrompem o sistema democrático ao promover valores excludentes disfarçados como “valores tradicionais” (p. 53–54). Bento combina fatos e teoria para demonstrar que o racismo contribui para o extermínio da população negra no Brasil. A autora observa que essa relação recebe pouca visibilidade nas pesquisas, indicando possíveis caminhos de investigação futura nos estudos críticos da branquitude.

Nos quatro capítulos seguintes, a autora se concentra no seu principal objeto de estudo: o racismo institucional e as suas consequências. Ela define o fenômeno como ações em nível organizacional que, independentemente da intenção de discriminar, acabam tendo impacto diferencial e negativo em certo grupo. Mais uma vez, a autora emprega sua experiência pessoal, destacando que o favorecimento de um grupo em detrimento de outros ocorre historicamente nas instituições por meio de pactos implícitos que perpetuam exclusões ideológicas e econômicas. Ela estabelece conexões sólidas entre racismo institucional, branquitude e pactos narcísicos.

Na sequência (sétimo capítulo), a autora aborda as consequências do racismo institucional para as mulheres negras. Ela destaca o trabalho doméstico como a perpetuação da herança da escravidão e a sub-representação das mulheres negras nos cargos executivos das grandes corporações, explicada pela branquitude que envolve a manutenção de privilégios e a exclusão de direitos. A autora ilustra comportamentos excludentes na sociedade brasileira, tornando o livro prático e atual. Além disso, amplia o repertório teórico dos leitores ao apresentar uma síntese do pensamento de autoras e pesquisadoras do feminismo negro, como Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro e Djamila Ribeiro.

No oitavo capítulo, a autora apresenta sua ação e a do Ceert contra o racismo institucional e os efeitos dos pactos narcísicos da branquitude. Ela justifica a criação de um centro voltado para a defesa dos direitos da população negra e a promoção da igualdade de raça e gênero, ressaltando que, mesmo em locais onde há discursos de igualdade de oportunidades, ainda prevalece o discurso da branquitude e da supremacia masculina e branca.

Abordando o mito democracia racial, ela ilustra como a branquitude justifica a ausência de políticas públicas de reparação histórica e culpabiliza a população negra por sua marginalização. Assim, com exemplos institucionais e didáticos, ela acrescenta ao campo dos estudos sobre racismo institucional, perspectiva mencionada por Lélia Gonzalez (2020, p. 43): o racismo cultural manipula as representações sociais de branqueamento e do mito da democracia racial a ponto de internalizá-las.

Lélia Gonzalez | Imagem: Wikipédia

Nos dois últimos capítulos, Cida Bento justifica a atualidade da sua publicação (2022) e enfatiza o valor das organizações que lutam por equidade racial e de gênero, dada a limitação das mudanças nas políticas de diversidade e equidade no Brasil. Ela destaca os impactos da discriminação racial e de gênero na educação e no mercado de trabalho, enfatizando a urgência de políticas públicas que promovam uma gestão democrática. Na sequência, a autora contextualiza seu livro historicamente, destacando a polarização social e a desigualdade racial e de gênero agravadas pelas políticas neoliberais. Assim, relembra o histórico violento que sustenta as instituições e perpetua as desigualdades, mantendo a branquitude nos postos de poder mais altos da sociedade.

No epílogo, a autora projeta seu livro para o futuro, refletindo sobre como a mudança está sendo construída. Ela ressalta que o combate ao sistema, construído pela branquitude e a supremacia branca, será um processo coletivo e duradouro, realizado por organizações privadas e públicas e que promoverá uma mudança de paradigma estrutural.

A autora cumpre com o objetivo apresentado na introdução da obra que é o de apresentar o fenômeno da branquitude e seus pactos narcísicos. Ela aborda diversas instâncias em que a branquitude se manifesta ou se relaciona, como a estrutura das instituições e as relações econômicas, culturais e políticas. A autora se esforça para produzir um livro acessível aos estudantes de graduação da área de humanidades, profissionais de RH, que buscam capacitação nas áreas de equidade de gênero e equidade racial, bem como acadêmicos iniciantes na pesquisa sobre branquitude.

Referências

OLIVEIRA, A. C. A. Lélia Gonzalez e o pensamento interseccional: uma reflexão sobre o mito da democracia racial no Brasil. Interterritórios. Cauruaru, v. 6, no. 10, 2020, 16 p.

GONZALES, Lélia. Por um feminismo afro-latino americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. Organização de Flávia Rios e Márcia Lima.

Sumário de O pacto da branquitude

  • Introdução
  • 1. O Pacto narcísico
  • 2. Branquitude e colonização europeia
  • 3. Capitalismo racial
  • 4. Personalidade autoritária, masculinidade branca e nacionalismo
  • 5. O campo de estudos sobre branquitude
  • 6. Racismo institucional
  • 7. O caso das Mulheres
  • 8. Enfrentando os desafios: CEERT
  • 9. Projetos de transformação
  • 10. O momento presente
  • Epílogo: Exercitando a mudança – Vidas negras importam

Para ampliar a sua revisão da literatura


Resenhista

Lhais Isla Dantas Leite é graduada em História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e atua na rede particular de ensino básico do estado de Sergipe. Publicou entre outros trabalhos: resenha do livro “Vovó nagô e papai branco”. ID LATTES: https://lattes.cnpq.br/9591635516615112. ID ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2319-3146; E-mail: laih.leite@gmail.com.

 


Para citar esta resenha

BENTO, Cida. O pacto da branquitude. São Paulo: Companhia das Letras, 2022. 152p. Resenha de: LEITE, Lhais Isla Dantas. Discurso didático contra o racismo. Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n.15, jan./fev., 2024. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/discurso-didatico-contra-o-racismo-resenha-de-lhais-isla-dantas-leite-ufs-sobre-o-livro-pacto-da-branquitude-de-cida-bento/>.


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n. 15, jan./fev., 2024 | ISSN 2764-2666

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Discurso didático contra o racismo — Resenha de Lhais Isla Dantas Leite (UFS) sobre o livro “Pacto da Branquitude”, de Cida Bento

Cida Bento | Imagem: Geledés

Resumo: Pacto da Branquitude, de Cida Bento, publicado em 2022, aborda a discriminação racial no Brasil, analisando a supremacia branca e seus efeitos. A obra destaca-se pela linguagem acessível e foco em equidade racial e de gênero, e crítica o sistema, apesar de apresentar certas lacunas informativas.

Palavras-chave: Branquitude, Equidade Racial, Racismo.


Pacto da Branquitude é um livro publicado por Cida Bento que sintetiza algumas das principais questões presentes na trajetória da autora. Seu objetivo é compreender como pessoas negras são discriminadas no Brasil devido à sua cor, enquanto pessoas brancas são favorecidas pelo sistema por meio do pacto narcísico da branquitude — termo por ela cunhado em sua tese de doutorado em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP), em 2002. A obra foi publicada em 2022 pela Companhia das Letras.

O interesse acadêmico e o debate público sobre branquitude têm aumentado, conforme declara o Observatório da Branquitude (2022). O tema surgiu nos EUA com W. E. B. Du Bois e no Brasil com Guerreiro Ramos, em 1957. Embora ainda não utilizasse o termo “branquitude”, Ramos explora a “patologia social do ‘branco brasileiro'”. Cida Bento abordou a questão motivada por experiências pessoais de discriminação e por seu trabalho com recursos humanos. Ela é conselheira e uma das fundadoras do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert) e já atuou como professora na rede básica, recrutadora, chefe de seleção, e executiva de Recursos Humanos. Seu trabalho inclui a organização de livros como Psicologia Social do Racismo (2002) e Ação afirmativa e diversidade no trabalho (2002) e sua tese Pactos Narcísicos no Racismo (2002) sobre branquitude é pioneira no Brasil. O livro em questão é a expressão da vontade de a autora sintetizar as principais questões de sua trajetória, mantendo uma linguagem acessível (Santos, 2022). Isso se reflete na estrutura da obra: são dez capítulos, mais a introdução e o epílogo, totalizando 148 páginas em formato de livro de bolso.

Na introdução, Bento analisa as relações raciais no Brasil e a sua ligação com a supremacia branca. O argumento central é de que há um problema nas relações entre negros e brancos causado pela supremacia branca, manifestando-se na branquitude e resultando em desvantagens para os negros e privilégios para os brancos. Bento se utiliza da própria trajetória e de outras experiências como fio condutor para tornar a leitura mais fluida. Segundo Ana Oliveira (2020, p.95), o uso de uma linguagem acessível caracteriza a descolonização do conhecimento e oferece uma alternativa discursiva que pode gerar caminhos para a ampliação dos públicos leitores e não barreiras para o acesso ao conhecimento.

No primeiro e segundo capítulos, a autora apresenta o campo de estudo da branquitude. Inicialmente, explica o conceito de “pactos narcísicos da branquitude”: um acordo não verbalizado entre pessoas brancas que mantêm seu poder na sociedade, resultando em exclusão e privilégios. Ela destacando como a supremacia branca disfarça ao longo da história o mito da meritocracia e perpetua os efeitos negativos da escravidão. Em seguida, explora a construção da branquitude, declarando que a colonização europeia impôs a identidade europeia como universal. A autora descreve o campo acadêmico da branquitude e apresenta as três ondas dos estudos críticos nos Estados Unidos. Por fim, anuncia as mais recentes produções sobre a temática da branquitude no Brasil, citando autores como: Lourenço Cardoso e Lia Vainer Schucman.

Nesses primeiros capítulos, a autora utiliza recursos linguísticos para tornar a leitura mais envolvente e atrativa, incluindo o uso de ironia e exemplos intercalados com explicações teóricas. No entanto, há lacunas de informação (inevitáveis, considerando o gênero didático), como a referência historiográfica para a Lei do Ventre Livre.

Nos terceiro capítulo, a autora aborda o conceito de “capitalismo racial”, que se baseia na exploração das lógicas de raça, etnia e gênero, para expropriar o trabalho e os meios de produção. O capitalismo racial cria as condições de expropriação de riquezas e a brutalidade que sustentam o sistema. A consequência dessa condição é a criação de narrativas hegemônicas eurocêntricas que escolhem o que será lembrado e o que será esquecido. Vem daí a importância da ação dos coletivos negros. Nesse segmento, contudo, a autora inverte a lógica de causa e consequência sem explicitar claramente essa relação, deixando a tarefa para o leitor mais atento.

No quarto capítulo, a autora explora a conexão entre os conceitos de “personalidade autoritária”, “masculinidade branca” e “nacionalismo”. Ela afirma que a teoria da personalidade autoritária é caracterizada pelo etnocentrismo e pela criação de inimigos, que se alinha à masculinidade branca e ao nacionalismo. Essas figuras de poder corrompem o sistema democrático ao promover valores excludentes disfarçados como “valores tradicionais” (p. 53–54). Bento combina fatos e teoria para demonstrar que o racismo contribui para o extermínio da população negra no Brasil. A autora observa que essa relação recebe pouca visibilidade nas pesquisas, indicando possíveis caminhos de investigação futura nos estudos críticos da branquitude.

Nos quatro capítulos seguintes, a autora se concentra no seu principal objeto de estudo: o racismo institucional e as suas consequências. Ela define o fenômeno como ações em nível organizacional que, independentemente da intenção de discriminar, acabam tendo impacto diferencial e negativo em certo grupo. Mais uma vez, a autora emprega sua experiência pessoal, destacando que o favorecimento de um grupo em detrimento de outros ocorre historicamente nas instituições por meio de pactos implícitos que perpetuam exclusões ideológicas e econômicas. Ela estabelece conexões sólidas entre racismo institucional, branquitude e pactos narcísicos.

Na sequência (sétimo capítulo), a autora aborda as consequências do racismo institucional para as mulheres negras. Ela destaca o trabalho doméstico como a perpetuação da herança da escravidão e a sub-representação das mulheres negras nos cargos executivos das grandes corporações, explicada pela branquitude que envolve a manutenção de privilégios e a exclusão de direitos. A autora ilustra comportamentos excludentes na sociedade brasileira, tornando o livro prático e atual. Além disso, amplia o repertório teórico dos leitores ao apresentar uma síntese do pensamento de autoras e pesquisadoras do feminismo negro, como Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro e Djamila Ribeiro.

No oitavo capítulo, a autora apresenta sua ação e a do Ceert contra o racismo institucional e os efeitos dos pactos narcísicos da branquitude. Ela justifica a criação de um centro voltado para a defesa dos direitos da população negra e a promoção da igualdade de raça e gênero, ressaltando que, mesmo em locais onde há discursos de igualdade de oportunidades, ainda prevalece o discurso da branquitude e da supremacia masculina e branca.

Abordando o mito democracia racial, ela ilustra como a branquitude justifica a ausência de políticas públicas de reparação histórica e culpabiliza a população negra por sua marginalização. Assim, com exemplos institucionais e didáticos, ela acrescenta ao campo dos estudos sobre racismo institucional, perspectiva mencionada por Lélia Gonzalez (2020, p. 43): o racismo cultural manipula as representações sociais de branqueamento e do mito da democracia racial a ponto de internalizá-las.

Lélia Gonzalez | Imagem: Wikipédia

Nos dois últimos capítulos, Cida Bento justifica a atualidade da sua publicação (2022) e enfatiza o valor das organizações que lutam por equidade racial e de gênero, dada a limitação das mudanças nas políticas de diversidade e equidade no Brasil. Ela destaca os impactos da discriminação racial e de gênero na educação e no mercado de trabalho, enfatizando a urgência de políticas públicas que promovam uma gestão democrática. Na sequência, a autora contextualiza seu livro historicamente, destacando a polarização social e a desigualdade racial e de gênero agravadas pelas políticas neoliberais. Assim, relembra o histórico violento que sustenta as instituições e perpetua as desigualdades, mantendo a branquitude nos postos de poder mais altos da sociedade.

No epílogo, a autora projeta seu livro para o futuro, refletindo sobre como a mudança está sendo construída. Ela ressalta que o combate ao sistema, construído pela branquitude e a supremacia branca, será um processo coletivo e duradouro, realizado por organizações privadas e públicas e que promoverá uma mudança de paradigma estrutural.

A autora cumpre com o objetivo apresentado na introdução da obra que é o de apresentar o fenômeno da branquitude e seus pactos narcísicos. Ela aborda diversas instâncias em que a branquitude se manifesta ou se relaciona, como a estrutura das instituições e as relações econômicas, culturais e políticas. A autora se esforça para produzir um livro acessível aos estudantes de graduação da área de humanidades, profissionais de RH, que buscam capacitação nas áreas de equidade de gênero e equidade racial, bem como acadêmicos iniciantes na pesquisa sobre branquitude.

Referências

OLIVEIRA, A. C. A. Lélia Gonzalez e o pensamento interseccional: uma reflexão sobre o mito da democracia racial no Brasil. Interterritórios. Cauruaru, v. 6, no. 10, 2020, 16 p.

GONZALES, Lélia. Por um feminismo afro-latino americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. Organização de Flávia Rios e Márcia Lima.

Sumário de O pacto da branquitude

  • Introdução
  • 1. O Pacto narcísico
  • 2. Branquitude e colonização europeia
  • 3. Capitalismo racial
  • 4. Personalidade autoritária, masculinidade branca e nacionalismo
  • 5. O campo de estudos sobre branquitude
  • 6. Racismo institucional
  • 7. O caso das Mulheres
  • 8. Enfrentando os desafios: CEERT
  • 9. Projetos de transformação
  • 10. O momento presente
  • Epílogo: Exercitando a mudança – Vidas negras importam

Para ampliar a sua revisão da literatura


Resenhista

Lhais Isla Dantas Leite é graduada em História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e atua na rede particular de ensino básico do estado de Sergipe. Publicou entre outros trabalhos: resenha do livro “Vovó nagô e papai branco”. ID LATTES: https://lattes.cnpq.br/9591635516615112. ID ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2319-3146; E-mail: laih.leite@gmail.com.

 


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BENTO, Cida. O pacto da branquitude. São Paulo: Companhia das Letras, 2022. 152p. Resenha de: LEITE, Lhais Isla Dantas. Discurso didático contra o racismo. Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n.15, jan./fev., 2024. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/discurso-didatico-contra-o-racismo-resenha-de-lhais-isla-dantas-leite-ufs-sobre-o-livro-pacto-da-branquitude-de-cida-bento/>.


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.4, n. 15, jan./fev., 2024 | ISSN 2764-2666

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