O método resolve tudo? – Resenha de “Elementos de Didática da História”, de Alfredo Braga Furtado

Resenhado por Anita Lucchesi (UL/RBHP) | 28 abril 2022.


Alfredo Braga Furtado | Foto: Fernando A. D. Furtado

Elementos de Didática da História, como o próprio título sugere, foi escrito por Alfredo Braga Furtado para subsidiar o trabalho docente dos estudantes de bacharelado e licenciatura em História e auxiliar na formação continuada dos profissionais da área. (p.47). Faz parte de uma extensa coleção do próprio Furtado, que abrange manuais do mesmo gênero (e com igual título) para diversas áreas, como a “Didática das Ciências Sociais”, “Didática das Engenharias”, “Didática do Turismo” e a “Didática da Psicologia.

Tal fertilidade em termos de manuais de ensino é explicada pelo autor em longo relato autobiográfico. Com graduação e mestrado na área da computação, foi no doutorado em Educação Matemática que Furtado despertou para a Pedagogia e a Didática, áreas nas quais atuou, ministrando disciplinas de “Estrutura e Funcionamento da Educação Básica”, “Didática Geral”. Depois de produzir os Elementos de Didática da Computação, encorajou-se a replicar o modelo nas outras áreas e literalmente submeteu o seu trabalho “à avaliação do leitor”, que é o que fazemos agora, principalmente em relação às duas áreas que tenho maior familiaridade: a licenciatura em história e as questões que envolvem o mundo digital e a educação.

O livro é estruturado em três partes (além da introdução, conclusão e apêndices), com respectivos capítulos, subdivididos em quase uma centena de tópicos. Na introdução, o autor apresenta e comenta as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de graduação em História, o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e apresenta “habilidades e competências desejáveis” ao professor de História.

A parte I é destinada à definição de Didática, explorando, inicialmente, alguns objetos clássicos da Didática Geral: ensino, método, técnica, acompanhados de fundamentos de Andragonia, Pedagogia e também das relações entre Didática Geral e Didática Especial. A outra parte do capítulo esboça uma história da Didática em escala secular, incluindo correntes pedagógicas e também autores como J.-J. Rousseau e F. Herbart.

A parte II refina a discussão e aplicação sobre os objetos clássicos da didática, distribuídos em macro tarefas: planejamento e administração do ensino (diagnósticos, táticas, estratégias, gerenciamento, operacionalização etc.), avaliação (literatura, funções e procedimentos), a tipificação e o inventário de métodos e técnicas de ensino, o emprego de tecnologias digitais na Educação e, por fim, conceitos e princípios de teoria da aprendizagem.

Na última parte, o autor apresenta princípios, técnicas e critérios de qualidade para o ensino, partindo da experiência de três professores: Doug Lemov, Salman Khan e Pierluigi Piazzi.

Nos apêndices, o autor apresenta a listagem das suas obras e relata a sua experiência de locutor de rádio, onde percebeu a “Importância da boa dicção” para a comunicação, expressão que intitula o texto.

O autor demonstra boa intenção em convencer os leitores sobre a importância da Didática Geral na formação inicial e continuada de professores. Nesse sentido, fornece importante contribuição pois combate, implicitamente, a ideia de que ensinar seria questão de Dom e não de estudo, pesquisa e experimentação. Mas as boas intenções, o esforço de pesquisa e o incentivo à profissionalização docente não bastam para que reconheçamos a relevância do seu trabalho com a Didática da História.

O livro não demonstra esforço maior em conhecer a literatura sobre a matéria, apesar das facilidades da Internet. A relação entre Didática Geral e Didática Especial, tocada na obra, é importante questão para os especialistas no Ensino de História, que trabalham em zonas de fronteira, ou seja, entre a Ciência da História, a Pedagogia, a Psicologia, a Filosofia e a Ciência da Informação, por exemplo. Há tensão entre os pesquisadores que defendem, ora a valência da Pedagogia sobre o Ensino de História, ora a valência da Teoria da História. O conteúdo do ensino de História é, inclusive, objeto de divisão: conteúdo substantivo (fatos e processos da experiência histórica) e conteúdo metahistórico (habilidades, conceitos e princípios da Ciência da História). O livro, porém, passa ao largo dessas disputas e, por isso mesmo, não oferece a posição do autor a respeito.

A maior preocupação do autor, no que se refere à Didática da História, é com os métodos e as técnicas aplicáveis pelo professor de História. Com essa ênfase, não faz mais que reproduzir uma disputa do interior da própria pedagogia, nascida na primeira metade do século XX. Ocorre que os manuais de Didática da História daquele período já admitiam a inserção de teorias e práticas específicas do ensino de história e da Ciência da História, esse fato, por si, deixa o livro com um amargo sabor de desatualização.

Até mesmo onde mais poderia contribuir, considerando a sua experiência de formação da autoria– me refiro ao capítulo “Tecnologias digitais na Educação” –, o livro reproduz lugares comuns (como o preço dos produtos e as insuficiências de conhecimento para o seu uso) e reforça os discursos genéricos que abundam no mercado, sobre as potencialidades e as restrições, quando a literatura especializada já reflete há quase uma década sobre as relações entre ensino de história na educação básica e o uso das ferramentas situadas na Internet (redes sociais, instrumentos de busca, aplicativos etc.), as exposições virtuais de museus e centros de pesquisa, os jogos digitais em computadores pessoais e telefones celulares, tendo inclusive estimulado a “experimentação criativa” e produzido expressões que designam domínios emergentes, como “Historiografia escolar digital” e “Letramento histórico-digital”, em trabalhos de pós-graduação, já transformados em livro, inclusive (Lucchesi; Maynard, 2019; Costa, 2021; Silva, 2020).

Outro momento que poderia dar simetria aos objetivos e ao plano da obra também é desperdiçado sem razão aparente. O autor aborda as DCN e o Enade, mas insere a discussão na introdução, quando poderia (e ainda pode) reservar um capítulo inteiro à matéria. Das DCN, limita-se a transcrever passagens do documento, referentes às habilidades e competências exigidas aos graduandos de História. Do Enade, lista os objetivos e descreve a estrutura da prova, com seus respectivos conteúdos de modo sintético. Ao final da introdução, o autor lista e comenta “outras habilidades e competências desejáveis” à docência e à pesquisa em história, mas o faz sem relacioná-las ao futuro trabalho efetivo desses profissionais, aos produtos que lhes são exigidos pelas corporações da área, pelo Estado, alunos e corporações do setor privado. Não há tomadas de posição sobre os significados de História, Ensino de História, Componente curricular História ou Ciência da História, seus fins, conceitos, princípios, procedimentos e valores básicos requisitados pelos profissionais do campo. A expressão “Principais eventos históricos”, por exemplo, refere-se à história da Didática e não ao ensino de História.

Esses desvios de função ou emprego equivocado de nomenclatura (Didática da História) me faz lembrar o que Margarida Maria Dias de Oliveira apontou, aqui mesmo neste periódico, em relação ao trabalho de um especialista: “novos conteúdos [no ensino de história]: esse será o caminho?” (Oliveira, 2021). Da mesma forma que a professora Margarida, questiono a obra: novos métodos: será esse o caminho para a formação inicial e continuada do professor de História?

No início do livro, o autor parafraseia Bruno D’Amore quando afirma que “para ensinar História não basta conhecer História” (p.10). De minha parte advogo que é o professor italiano está com a razão, mas é também necessário conhecer alguma coisa da Ciência da História, para ficarmos com um mínimo de domínio na área. Furtado perdeu uma boa oportunidade para firmar uma posição sobre esse território praticamente virgem no Brasil: a Didática da História para o ensino Superior. A sua iniciativa é um bom exemplo do que o avanço das novas tecnologias associado ao domínio do capitalismo financeiro pode fazer em termos de diluição do poder da autoria. Antes da Amazon, editoras universitárias e pequenos livreiros faziam a filtragem dos textos, quando os autores não eram, de certo modo, impedidos pelos preços proibitivos das editoras comerciais. Hoje, analogamente à liberdade adquirida por todos os proprietários de contas em redes sociais, qualquer pessoa está autorizada a usufruir do status de autor de livro técnico.

Sumário de Elementos de Didática da História

  • Apresentação
  • Introdução
  • Parte I – Definição de Didática
  • 1. Tópicos da prática pedagógica
  • 2. Principais eventos históricos relacionados à didática
  • Parte II – Elementos de Didática
  • 3.Ciclo do trabalho docente
  • 4. Educação em diferentes contextos
  • 5. Planejamento de ensino
  • 6. Técnicas de avaliação de aprendizagem
  • 7. Métodos ou técnicas de ensino
  • 8. Tecnologias digitais na Educação
  • 9. O que é aprendizagem
  • Parte III – Experiências didáticas
  • 10. Grandes professores – Doug Lemov
  • 11. Grandes professores – Salman Khan
  • 12, Grandes professores – Pierluigi Piazzi
  • A título de Conclusão
  • Referências
  • Apêndice – Importância da boa dicção
  • Relação de obras do autor

Referências

CAVALCANTI, Eri. A História “encastelada” e o ensino “encurralado”: escritos sobre História, ensino e formação docente. Curitiba: CRV, 168p. Resenha de: OLIVEIRA, Maria Margarida Dias de. Novos conteúdos: será este o caminho? Crítica Historiográfica. Natal, v.1, n.1, set./out. 2021. Disponível em: https://www.criticahistoriografica.com.br/a-historia-encastelada-e-o-ensino-encurralado-escritos-sobre-historia-ensino-e-formacao-docente-eri-cavalcanti/

COSTA, Marcela Albaine Farias da. Ensino de História e Historiografia digital. Curitiba: CRV, 2021. 212p.

LUCCHESI, A.; MAYNARD, D. C. S. . Novas Tecnologias. In: Marieta de Moraes Ferreira; Margarida Maria Dias de Oliveira. (Org.). Dicionário de Ensino de História. 1ed.Rio de Janeiro: FGV Editoria, 2019, v. 1, p. 179-184.

SILVA, Danilo Alves. Letramento histórico-digital: Ensino de História e Tecnologias Digitais. Rio de Janeiro: Autografia, 2020. 162p.

 


Resenhista

Anita Lucchesi é doutora em História (Universidade do Luxemburgo) e especialista em História digital e História pública. Faz parte da Rede Brasileira de História Pública e comitê diretor da Federação Internacional de História Pública. Publicou, entre outros trabalhos, O laboratório da história pública digital: aprender entre experimento e negociação (2021), Learning by Doing: Introducing Students to Public History through Digital Projects (2019), Por um debate sobre História e Historiografia Digital e .e o verbete “Novas Tecnologias” no Dicionário do Ensino de História (2021). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2768895341773857; Orcid: https://orcid.org/0000-0002-8523-111X; E-mail: [email protected].


Para citar esta resenha

FURTADO, Alfredo Braga. Elementos de Didática da História. Belém: Edição do Autor, 2019. 290p. Resenha de: LUCCHESI, Anita. Título enganoso. Crítica Historiográfica. Natal, v.2, n.5, p.27-31, maio/jun. 2022. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/o-metodo-resolve-tudo-resenha-de-elementos-de-didatica-da-historia-de-alfredo-braga-furtado/>

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© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.2, n.5, maio/jun. 2022 | ISSN 2764-2666

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Resenhado por Anita Lucchesi (UL/RBHP) | 28 abril 2022.


Alfredo Braga Furtado | Foto: Fernando A. D. Furtado

Elementos de Didática da História, como o próprio título sugere, foi escrito por Alfredo Braga Furtado para subsidiar o trabalho docente dos estudantes de bacharelado e licenciatura em História e auxiliar na formação continuada dos profissionais da área. (p.47). Faz parte de uma extensa coleção do próprio Furtado, que abrange manuais do mesmo gênero (e com igual título) para diversas áreas, como a “Didática das Ciências Sociais”, “Didática das Engenharias”, “Didática do Turismo” e a “Didática da Psicologia.

Tal fertilidade em termos de manuais de ensino é explicada pelo autor em longo relato autobiográfico. Com graduação e mestrado na área da computação, foi no doutorado em Educação Matemática que Furtado despertou para a Pedagogia e a Didática, áreas nas quais atuou, ministrando disciplinas de “Estrutura e Funcionamento da Educação Básica”, “Didática Geral”. Depois de produzir os Elementos de Didática da Computação, encorajou-se a replicar o modelo nas outras áreas e literalmente submeteu o seu trabalho “à avaliação do leitor”, que é o que fazemos agora, principalmente em relação às duas áreas que tenho maior familiaridade: a licenciatura em história e as questões que envolvem o mundo digital e a educação.

O livro é estruturado em três partes (além da introdução, conclusão e apêndices), com respectivos capítulos, subdivididos em quase uma centena de tópicos. Na introdução, o autor apresenta e comenta as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de graduação em História, o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e apresenta “habilidades e competências desejáveis” ao professor de História.

A parte I é destinada à definição de Didática, explorando, inicialmente, alguns objetos clássicos da Didática Geral: ensino, método, técnica, acompanhados de fundamentos de Andragonia, Pedagogia e também das relações entre Didática Geral e Didática Especial. A outra parte do capítulo esboça uma história da Didática em escala secular, incluindo correntes pedagógicas e também autores como J.-J. Rousseau e F. Herbart.

A parte II refina a discussão e aplicação sobre os objetos clássicos da didática, distribuídos em macro tarefas: planejamento e administração do ensino (diagnósticos, táticas, estratégias, gerenciamento, operacionalização etc.), avaliação (literatura, funções e procedimentos), a tipificação e o inventário de métodos e técnicas de ensino, o emprego de tecnologias digitais na Educação e, por fim, conceitos e princípios de teoria da aprendizagem.

Na última parte, o autor apresenta princípios, técnicas e critérios de qualidade para o ensino, partindo da experiência de três professores: Doug Lemov, Salman Khan e Pierluigi Piazzi.

Nos apêndices, o autor apresenta a listagem das suas obras e relata a sua experiência de locutor de rádio, onde percebeu a “Importância da boa dicção” para a comunicação, expressão que intitula o texto.

O autor demonstra boa intenção em convencer os leitores sobre a importância da Didática Geral na formação inicial e continuada de professores. Nesse sentido, fornece importante contribuição pois combate, implicitamente, a ideia de que ensinar seria questão de Dom e não de estudo, pesquisa e experimentação. Mas as boas intenções, o esforço de pesquisa e o incentivo à profissionalização docente não bastam para que reconheçamos a relevância do seu trabalho com a Didática da História.

O livro não demonstra esforço maior em conhecer a literatura sobre a matéria, apesar das facilidades da Internet. A relação entre Didática Geral e Didática Especial, tocada na obra, é importante questão para os especialistas no Ensino de História, que trabalham em zonas de fronteira, ou seja, entre a Ciência da História, a Pedagogia, a Psicologia, a Filosofia e a Ciência da Informação, por exemplo. Há tensão entre os pesquisadores que defendem, ora a valência da Pedagogia sobre o Ensino de História, ora a valência da Teoria da História. O conteúdo do ensino de História é, inclusive, objeto de divisão: conteúdo substantivo (fatos e processos da experiência histórica) e conteúdo metahistórico (habilidades, conceitos e princípios da Ciência da História). O livro, porém, passa ao largo dessas disputas e, por isso mesmo, não oferece a posição do autor a respeito.

A maior preocupação do autor, no que se refere à Didática da História, é com os métodos e as técnicas aplicáveis pelo professor de História. Com essa ênfase, não faz mais que reproduzir uma disputa do interior da própria pedagogia, nascida na primeira metade do século XX. Ocorre que os manuais de Didática da História daquele período já admitiam a inserção de teorias e práticas específicas do ensino de história e da Ciência da História, esse fato, por si, deixa o livro com um amargo sabor de desatualização.

Até mesmo onde mais poderia contribuir, considerando a sua experiência de formação da autoria– me refiro ao capítulo “Tecnologias digitais na Educação” –, o livro reproduz lugares comuns (como o preço dos produtos e as insuficiências de conhecimento para o seu uso) e reforça os discursos genéricos que abundam no mercado, sobre as potencialidades e as restrições, quando a literatura especializada já reflete há quase uma década sobre as relações entre ensino de história na educação básica e o uso das ferramentas situadas na Internet (redes sociais, instrumentos de busca, aplicativos etc.), as exposições virtuais de museus e centros de pesquisa, os jogos digitais em computadores pessoais e telefones celulares, tendo inclusive estimulado a “experimentação criativa” e produzido expressões que designam domínios emergentes, como “Historiografia escolar digital” e “Letramento histórico-digital”, em trabalhos de pós-graduação, já transformados em livro, inclusive (Lucchesi; Maynard, 2019; Costa, 2021; Silva, 2020).

Outro momento que poderia dar simetria aos objetivos e ao plano da obra também é desperdiçado sem razão aparente. O autor aborda as DCN e o Enade, mas insere a discussão na introdução, quando poderia (e ainda pode) reservar um capítulo inteiro à matéria. Das DCN, limita-se a transcrever passagens do documento, referentes às habilidades e competências exigidas aos graduandos de História. Do Enade, lista os objetivos e descreve a estrutura da prova, com seus respectivos conteúdos de modo sintético. Ao final da introdução, o autor lista e comenta “outras habilidades e competências desejáveis” à docência e à pesquisa em história, mas o faz sem relacioná-las ao futuro trabalho efetivo desses profissionais, aos produtos que lhes são exigidos pelas corporações da área, pelo Estado, alunos e corporações do setor privado. Não há tomadas de posição sobre os significados de História, Ensino de História, Componente curricular História ou Ciência da História, seus fins, conceitos, princípios, procedimentos e valores básicos requisitados pelos profissionais do campo. A expressão “Principais eventos históricos”, por exemplo, refere-se à história da Didática e não ao ensino de História.

Esses desvios de função ou emprego equivocado de nomenclatura (Didática da História) me faz lembrar o que Margarida Maria Dias de Oliveira apontou, aqui mesmo neste periódico, em relação ao trabalho de um especialista: “novos conteúdos [no ensino de história]: esse será o caminho?” (Oliveira, 2021). Da mesma forma que a professora Margarida, questiono a obra: novos métodos: será esse o caminho para a formação inicial e continuada do professor de História?

No início do livro, o autor parafraseia Bruno D’Amore quando afirma que “para ensinar História não basta conhecer História” (p.10). De minha parte advogo que é o professor italiano está com a razão, mas é também necessário conhecer alguma coisa da Ciência da História, para ficarmos com um mínimo de domínio na área. Furtado perdeu uma boa oportunidade para firmar uma posição sobre esse território praticamente virgem no Brasil: a Didática da História para o ensino Superior. A sua iniciativa é um bom exemplo do que o avanço das novas tecnologias associado ao domínio do capitalismo financeiro pode fazer em termos de diluição do poder da autoria. Antes da Amazon, editoras universitárias e pequenos livreiros faziam a filtragem dos textos, quando os autores não eram, de certo modo, impedidos pelos preços proibitivos das editoras comerciais. Hoje, analogamente à liberdade adquirida por todos os proprietários de contas em redes sociais, qualquer pessoa está autorizada a usufruir do status de autor de livro técnico.

Sumário de Elementos de Didática da História

  • Apresentação
  • Introdução
  • Parte I – Definição de Didática
  • 1. Tópicos da prática pedagógica
  • 2. Principais eventos históricos relacionados à didática
  • Parte II – Elementos de Didática
  • 3.Ciclo do trabalho docente
  • 4. Educação em diferentes contextos
  • 5. Planejamento de ensino
  • 6. Técnicas de avaliação de aprendizagem
  • 7. Métodos ou técnicas de ensino
  • 8. Tecnologias digitais na Educação
  • 9. O que é aprendizagem
  • Parte III – Experiências didáticas
  • 10. Grandes professores – Doug Lemov
  • 11. Grandes professores – Salman Khan
  • 12, Grandes professores – Pierluigi Piazzi
  • A título de Conclusão
  • Referências
  • Apêndice – Importância da boa dicção
  • Relação de obras do autor

Referências

CAVALCANTI, Eri. A História “encastelada” e o ensino “encurralado”: escritos sobre História, ensino e formação docente. Curitiba: CRV, 168p. Resenha de: OLIVEIRA, Maria Margarida Dias de. Novos conteúdos: será este o caminho? Crítica Historiográfica. Natal, v.1, n.1, set./out. 2021. Disponível em: https://www.criticahistoriografica.com.br/a-historia-encastelada-e-o-ensino-encurralado-escritos-sobre-historia-ensino-e-formacao-docente-eri-cavalcanti/

COSTA, Marcela Albaine Farias da. Ensino de História e Historiografia digital. Curitiba: CRV, 2021. 212p.

LUCCHESI, A.; MAYNARD, D. C. S. . Novas Tecnologias. In: Marieta de Moraes Ferreira; Margarida Maria Dias de Oliveira. (Org.). Dicionário de Ensino de História. 1ed.Rio de Janeiro: FGV Editoria, 2019, v. 1, p. 179-184.

SILVA, Danilo Alves. Letramento histórico-digital: Ensino de História e Tecnologias Digitais. Rio de Janeiro: Autografia, 2020. 162p.

 


Resenhista

Anita Lucchesi é doutora em História (Universidade do Luxemburgo) e especialista em História digital e História pública. Faz parte da Rede Brasileira de História Pública e comitê diretor da Federação Internacional de História Pública. Publicou, entre outros trabalhos, O laboratório da história pública digital: aprender entre experimento e negociação (2021), Learning by Doing: Introducing Students to Public History through Digital Projects (2019), Por um debate sobre História e Historiografia Digital e .e o verbete “Novas Tecnologias” no Dicionário do Ensino de História (2021). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2768895341773857; Orcid: https://orcid.org/0000-0002-8523-111X; E-mail: [email protected].


Para citar esta resenha

FURTADO, Alfredo Braga. Elementos de Didática da História. Belém: Edição do Autor, 2019. 290p. Resenha de: LUCCHESI, Anita. Título enganoso. Crítica Historiográfica. Natal, v.2, n.5, p.27-31, maio/jun. 2022. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/o-metodo-resolve-tudo-resenha-de-elementos-de-didatica-da-historia-de-alfredo-braga-furtado/>

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© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.2, n.5, maio/jun. 2022 | ISSN 2764-2666

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