Raízes de fé — Resenha de Luiz Fernando de Carvalho Reis (UNEB-PPGAFIN/FAI) sobre o livro “Quão Africano é o Cristianismo?”, de Thomas Oden

Thomas Clark Oden | Imagem: Christianity Today

Resumo: Quão Africano é o Cristianismo?, de Thomas Clark Oden, é um estudo histórico sobre a proveniência africana de princípios teológicos cristãos. A obra também anuncia um abrangente projeto de pesquisa de caráter transnacional sobre as raízes bíblicas e africanas.

Palavras-chave: Cristianismo, Africanos, Teologia.


A obra resenhada, Quão Africano é o Cristianismo? é um livro escrito por Thomas C. Oden. O objetivo principal é responder à seguinte questão: “Como a mente africana moldou a mente cristã nos primeiros séculos do cristianismo?”(p.11). A presente obra é baseada em fontes teóricas diversas, a exemplo das fontes de datação de Birger A. Pearson e Stephen J. Davis, dos aprendizados de Oden com seu Professor H. Richard Niebuhr, além dos conceitos devidamente contestados da neo-ortodoxia vista aos olhos de Paul Tillich, Rudolf Bultmann, Reinhold Niebuhr e H. Richard Niebuhr, em oposição a ortodoxia africana.

Quão africano é o Cristianismo? é um livro que examina a influência e a história do cristianismo na África. Explora a conexão profunda entre a fé cristã e as tradições africanas, destacando a contribuição do continente para a religião. Com uma abordagem abrangente, o livro analisa as práticas religiosas, a teologia e a cultura africana, desafiando noções eurocêntricas e apresentando uma perspectiva africana sobre o cristianismo.

A primeira parte, “O Berço Africano do Cristianismo Africano”, enfatiza a importância de relatar a história da herança primitiva dos cristãos africanos, ressaltando os obstáculos e a necessidade de uma pesquisa mais aprofunda sobre o assunto. O autor reconhece a hesitação dos ocidentais em abordar o tema devido a preconceitos e à falta de conhecimento sobre a relevância da história africana. No entanto, ele ressalta que a história do cristianismo africano é essencial tanto para a África quanto para o ocidente. Essa parte do livro, destaca a importância de investigar textos antigos para desenvolver uma compreensão precisa historicamente. Ele enfatiza a necessidade de especialistas nas línguas árabe, copta e ge’ez, interpretar os textos. Além disso, ele menciona a importância de transmissão aos africanos, e destaca que a história do cristianismo africano abrange várias tradições cristãs. Oden, reconhece as dificuldades enfrentadas para acessar a história do cristianismo africano, como barreiras políticas. Entretanto, argumenta que é necessário superar obstáculos e realizar pesquisas com os recursos disponíveis. Ressalta que a era digital oferece oportunidades para tornar textos acessíveis. Reconhece a importância de relatar a história da herança dos cristãos africanos, destacando as pesquisas aprofundadas.

Apesar das suas contribuições pode-se separar que o texto apresenta repetição de informações, afetando a fluidez da leitura. Por exemplo, há repetições como “enfatiza a importância de relatar a história da herança dos cristãos africanos” e “ressalta a importância de investigar e analisar textos antigos”.

Não obstante as imperfeições acima, reconhecemos a importância de relatar a história dos cristãos africanos, a hesitação dos ocidentais em relação ao tema devido a preconceitos e não conhecimento, além de ressaltar a importância de investigar e analisar textos antigos.

A segunda parte do livro aborda a possibilidade dos cristãos recuperarem seu passado africano e apresenta argumentos sobre porque pode ser propício. Oden destaca condições que contribuem: a rápida expansão do cristianismo, uma busca por profundidade intelectual e o poder percebido do mundo muçulmano, combinado com a exaustão das alternativas intelectualistas. O autor enfatiza a importância de aproveitar essa janela, pois as condições históricas podem mudar e a oportunidade perdida. O momento atual é visto como uma chance de resgatar elementos.

Essa segunda parte do livro também menciona a presença das sementes da fé ortodoxa africana, não se limitando apenas ao cristianismo missionário, mas se estendendo à história africana primitiva. Esta parte levanta questões sobre a relação entre poder e ortodoxia, questionando se essa última é resultado de coerção política e econômica. Argumenta-se que a visão de que a ortodoxia é simplesmente manipulada pelos vencedores deve ser examinada. O autor destaca a importância dos escritos primitivos da África para a compreensão da história humana, enfatizando que essas fontes são fundamentais.

Contudo, destaca-se, nessa segunda parte do livro uma visão otimista sobre a oportunidade dos cristãos recuperarem seu passado africano clássico, destacando a importância da nutrição espiritual, liderança sábia e estudos das Escrituras. Ele levanta questões sobre a relação entre poder e ortodoxia, destacando a influência da história africana na compreensão da fé cristã.

Mesmo que seja importante uma visão assertiva, sem fornecer evidências concretas sustentando as afirmações. Oden afirma que as condições históricas podem mudar se a oportunidade não for aproveitada, mas não oferece uma análise aprofundada sobre quais seriam essas mudanças ou como elas afetariam a busca pelos elementos do passado africano. Além disso, essa parte carece de abordagens críticas das ideias. Embora Oden sugira que a história do cristianismo africano contém conhecimentos valiosos, ele não examina como essas histórias foram negligenciadas e por que é importante recuperá-las agora. A segunda parte assume que a história africana contém verdades essenciais, sem fornecer uma análise crítica.

O autor também faz uma distinção entre a ortodoxia africana e as instituições ocidentais denominacionais, distorcidas pela tradição teológica de pensadores. No entanto, essas afirmações não são sustentadas por argumentos sólidos ou exemplos concretos. Oden não explica como a ortodoxia africana é diferente das instituições ocidentais e quais as bases para afirmações sobre distorções teológicas. Em termos de estrutura, carece de uma organização clara e coerente. As ideias são apresentadas fragmentadas, sem uma conexão fluida entre os pontos. Isso dificulta a compreensão do argumento e torna a leitura confusa. No geral, embora o texto aborde um tema interessante sobre a recuperação do passado africano pelos cristãos, ele falha em fornecer uma análise crítica sólida. Uma revisão mais aprofundada, com uma estrutura organizada e uma abordagem crítica das ideias apresentadas, seria necessária para melhorar a qualidade e coesão do texto.

O apêndice do livro revela um projeto interessante e promissor para a reavaliação teológica do cristianismo africano primitivo. Oden descreve um plano específico para a pesquisa, envolvendo a tradução e distribuição de textos, recrutamento de equipe internacional de especialistas e aprofundamento das raízes bíblicas e africanas.

Além disso, reunir uma equipe diversificada de tradutores, linguistas, historiadores e especialistas em tecnologia da informação demonstra um compromisso em realizar uma pesquisa de qualidade. O apêndice destaca a importância de trazer a teologia africana contemporânea para uma consciência profunda de sua própria tradição rica, moldada por fontes escritas no solo africano ao longo de milênios. Essa ênfase na valorização das raízes africanas do cristianismo é um aspecto louvável do projeto, pois reconhece a influência essas fontes na cultura africana e destaca a relevância tradicional.

Outro aspecto positivo é a formação de parcerias internacionais e redes, como a Aliança Evangélica Mundial, a Rede InterVarsity e a Rede Lausanne. Essas parcerias podem proporcionar colaboração e alcance amplo, envolvendo acadêmicos de diferentes tradições cristãs.

Aliança Evangélica Mundial | Imagem: CNBB

Contudo, o apêndice poderia se beneficiar de uma exploração mais aprofundada dos desafios e obstáculos que podem surgir durante a implementação do projeto. Embora mencione a necessidade de respeitar a dignidade dos cristãos africanos e evitar uma imposição de ideias euro-americanas, não fica claro como essas preocupações serão abordadas. Além disso, seria interessante ter uma discussão mais detalhada sobre a seleção dos textos a serem traduzidos e a abordagem metodológica. Uma análise crítica das fontes existentes e uma avaliação cuidadosa da autenticidade e relevância desses textos fortaleceria o rigor. Em termos de organização do texto, o apêndice é claro e coerente. No entanto, algumas partes poderiam se beneficiar de estrutura clara e conexão fluida entre os pontos. Isso tornaria a leitura mais fácil e permitiria uma compreensão global mais eficaz. No geral, o apêndice apresenta uma proposta empolgante para a pesquisa e reavaliação do cristianismo africano. Os objetivos de tradução, distribuição e aprofundamento das raízes africanas da teologia podem contribuir para uma compreensão da história e do pensamento teológico africano. No entanto, seria necessário abordar questões metodológicas e de implementação para garantir a relevância do projeto.

Por fim, Oden apresenta em seu livro um resumo da cronologia do cristianismo africano. O autor destaca que essa cronologia é necessária devido à falta de informações básicas sobre o assunto, indicando a negligência desse campo de estudo. Tem como objetivo servir como um guia para pesquisas futuras no cristianismo africano primitivo. A ênfase da cronologia está nos eventos, pessoas e textos relevantes para a história do cristianismo africano. O foco principal está nos textos da África primitiva, revelando o escopo dos ensinamentos intelectuais, exegéticos e sociais dos cristãos primitivos. No entanto, o autor ressalta que as datas apresentadas estão sob debate e que existem conflitos. A cronologia busca consistência com base em evidências e sintetiza as principais opiniões acadêmicas, especialmente as pesquisas recentes de Birger A. Pearson e Stephen J. Davis.

Embora o autor reconheça que essa cronologia é apenas uma tentativa de mapear uma vasta história, deixando claro que não busca explicar as ideias mencionadas, mas incentivar estudos futuros. A falta de traduções adequadas dos textos cristãos da África é destacada como problema, e a cronologia literária tem o objetivo de chamar a atenção para essas obras que estão deterioradas. Em que pese observa-se a falta de melhores fontes de referências bibliográficas que deem sustentação a cronologia.

No decorrer do livro, o autor cumpre perfeitamente seu objetivo central, expresso na pergunta sobre como a mente africana influenciou a mente cristã nos primeiros séculos do cristianismo. Ele demonstra que a mentalidade clássica cristã é moldada pela imaginação que surge da África. Para concluir a obra, o autor apresenta um plano específico no apêndice, propondo uma reavaliação teológica e histórica do cristianismo africano primitivo por meio da colaboração de escolas e acadêmicos.

Sumário de Quão Africano é o Cristianismo?

  • Introdução
  • Parte 1 – O berço africano do cristianismo ocidental
  • 1. Uma história esquecida
  • 2. Sete maneiras que a África moldou a mente cristã
  • 3. Definindo a África
  • 4. Uma fé, duas áfricas
  • 5. Tentações: predisposições históricas tendenciosas
  • Parte 2 — Recuperação da ortodoxia africana
  • 6. A oportunidade para recuperação
  • 7. Como o sangue dos mártires africanos se tornou a semente do cristianismo europeu
  • 8. Relembrando devidamente
  • 9. Buscando a reconciliação do cristianismo e do islã através do insight histórico
  • Apêndice — Os desafios da pesquisa primitiva africana
  • Cronologia literária do cristianismo na África no primeiro milênio
  • Bibliografia

Para ampliar a sua revisão da literatura


Resenhista

Luiz Fernando de Carvalho Reis é mestre em Administração Estratégica pela Universidade Salvador (US), especialista em Cultura Teológica pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e bacharel em Administração e Teologia. É professor da Faculdade Irecê (FAI). Entre outros trabalhos, publicou A deficiência visual em questão.  ID LATTES: http://lattes.cnpq.br/1500485484897919; ID ORCID: https://orcid.org/0009-0007-1755-3014; E-mail: [email protected].


Para citar essa resenha

ODEN, Thomas. Quão Africano é o Cristianismo? Sn.: Quitanda, 2022. Resenha de: REIS, Luiz Fernando de Carvalho. Raízes de fé. Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n.12, jul./ago., 2023. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/raizes-de-fe-resenha-de-luiz-fernando-de-carvalho-reis-uneb-ppgafin-fai-sobre-o-livro-quao-africano-e-o-cristianismo-de-thomas-oden/>


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n. 12, jul./ago., 2023 | ISSN 2764-2666

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Thomas Clark Oden | Imagem: Christianity Today

Resumo: Quão Africano é o Cristianismo?, de Thomas Clark Oden, é um estudo histórico sobre a proveniência africana de princípios teológicos cristãos. A obra também anuncia um abrangente projeto de pesquisa de caráter transnacional sobre as raízes bíblicas e africanas.

Palavras-chave: Cristianismo, Africanos, Teologia.


A obra resenhada, Quão Africano é o Cristianismo? é um livro escrito por Thomas C. Oden. O objetivo principal é responder à seguinte questão: “Como a mente africana moldou a mente cristã nos primeiros séculos do cristianismo?”(p.11). A presente obra é baseada em fontes teóricas diversas, a exemplo das fontes de datação de Birger A. Pearson e Stephen J. Davis, dos aprendizados de Oden com seu Professor H. Richard Niebuhr, além dos conceitos devidamente contestados da neo-ortodoxia vista aos olhos de Paul Tillich, Rudolf Bultmann, Reinhold Niebuhr e H. Richard Niebuhr, em oposição a ortodoxia africana.

Quão africano é o Cristianismo? é um livro que examina a influência e a história do cristianismo na África. Explora a conexão profunda entre a fé cristã e as tradições africanas, destacando a contribuição do continente para a religião. Com uma abordagem abrangente, o livro analisa as práticas religiosas, a teologia e a cultura africana, desafiando noções eurocêntricas e apresentando uma perspectiva africana sobre o cristianismo.

A primeira parte, “O Berço Africano do Cristianismo Africano”, enfatiza a importância de relatar a história da herança primitiva dos cristãos africanos, ressaltando os obstáculos e a necessidade de uma pesquisa mais aprofunda sobre o assunto. O autor reconhece a hesitação dos ocidentais em abordar o tema devido a preconceitos e à falta de conhecimento sobre a relevância da história africana. No entanto, ele ressalta que a história do cristianismo africano é essencial tanto para a África quanto para o ocidente. Essa parte do livro, destaca a importância de investigar textos antigos para desenvolver uma compreensão precisa historicamente. Ele enfatiza a necessidade de especialistas nas línguas árabe, copta e ge’ez, interpretar os textos. Além disso, ele menciona a importância de transmissão aos africanos, e destaca que a história do cristianismo africano abrange várias tradições cristãs. Oden, reconhece as dificuldades enfrentadas para acessar a história do cristianismo africano, como barreiras políticas. Entretanto, argumenta que é necessário superar obstáculos e realizar pesquisas com os recursos disponíveis. Ressalta que a era digital oferece oportunidades para tornar textos acessíveis. Reconhece a importância de relatar a história da herança dos cristãos africanos, destacando as pesquisas aprofundadas.

Apesar das suas contribuições pode-se separar que o texto apresenta repetição de informações, afetando a fluidez da leitura. Por exemplo, há repetições como “enfatiza a importância de relatar a história da herança dos cristãos africanos” e “ressalta a importância de investigar e analisar textos antigos”.

Não obstante as imperfeições acima, reconhecemos a importância de relatar a história dos cristãos africanos, a hesitação dos ocidentais em relação ao tema devido a preconceitos e não conhecimento, além de ressaltar a importância de investigar e analisar textos antigos.

A segunda parte do livro aborda a possibilidade dos cristãos recuperarem seu passado africano e apresenta argumentos sobre porque pode ser propício. Oden destaca condições que contribuem: a rápida expansão do cristianismo, uma busca por profundidade intelectual e o poder percebido do mundo muçulmano, combinado com a exaustão das alternativas intelectualistas. O autor enfatiza a importância de aproveitar essa janela, pois as condições históricas podem mudar e a oportunidade perdida. O momento atual é visto como uma chance de resgatar elementos.

Essa segunda parte do livro também menciona a presença das sementes da fé ortodoxa africana, não se limitando apenas ao cristianismo missionário, mas se estendendo à história africana primitiva. Esta parte levanta questões sobre a relação entre poder e ortodoxia, questionando se essa última é resultado de coerção política e econômica. Argumenta-se que a visão de que a ortodoxia é simplesmente manipulada pelos vencedores deve ser examinada. O autor destaca a importância dos escritos primitivos da África para a compreensão da história humana, enfatizando que essas fontes são fundamentais.

Contudo, destaca-se, nessa segunda parte do livro uma visão otimista sobre a oportunidade dos cristãos recuperarem seu passado africano clássico, destacando a importância da nutrição espiritual, liderança sábia e estudos das Escrituras. Ele levanta questões sobre a relação entre poder e ortodoxia, destacando a influência da história africana na compreensão da fé cristã.

Mesmo que seja importante uma visão assertiva, sem fornecer evidências concretas sustentando as afirmações. Oden afirma que as condições históricas podem mudar se a oportunidade não for aproveitada, mas não oferece uma análise aprofundada sobre quais seriam essas mudanças ou como elas afetariam a busca pelos elementos do passado africano. Além disso, essa parte carece de abordagens críticas das ideias. Embora Oden sugira que a história do cristianismo africano contém conhecimentos valiosos, ele não examina como essas histórias foram negligenciadas e por que é importante recuperá-las agora. A segunda parte assume que a história africana contém verdades essenciais, sem fornecer uma análise crítica.

O autor também faz uma distinção entre a ortodoxia africana e as instituições ocidentais denominacionais, distorcidas pela tradição teológica de pensadores. No entanto, essas afirmações não são sustentadas por argumentos sólidos ou exemplos concretos. Oden não explica como a ortodoxia africana é diferente das instituições ocidentais e quais as bases para afirmações sobre distorções teológicas. Em termos de estrutura, carece de uma organização clara e coerente. As ideias são apresentadas fragmentadas, sem uma conexão fluida entre os pontos. Isso dificulta a compreensão do argumento e torna a leitura confusa. No geral, embora o texto aborde um tema interessante sobre a recuperação do passado africano pelos cristãos, ele falha em fornecer uma análise crítica sólida. Uma revisão mais aprofundada, com uma estrutura organizada e uma abordagem crítica das ideias apresentadas, seria necessária para melhorar a qualidade e coesão do texto.

O apêndice do livro revela um projeto interessante e promissor para a reavaliação teológica do cristianismo africano primitivo. Oden descreve um plano específico para a pesquisa, envolvendo a tradução e distribuição de textos, recrutamento de equipe internacional de especialistas e aprofundamento das raízes bíblicas e africanas.

Além disso, reunir uma equipe diversificada de tradutores, linguistas, historiadores e especialistas em tecnologia da informação demonstra um compromisso em realizar uma pesquisa de qualidade. O apêndice destaca a importância de trazer a teologia africana contemporânea para uma consciência profunda de sua própria tradição rica, moldada por fontes escritas no solo africano ao longo de milênios. Essa ênfase na valorização das raízes africanas do cristianismo é um aspecto louvável do projeto, pois reconhece a influência essas fontes na cultura africana e destaca a relevância tradicional.

Outro aspecto positivo é a formação de parcerias internacionais e redes, como a Aliança Evangélica Mundial, a Rede InterVarsity e a Rede Lausanne. Essas parcerias podem proporcionar colaboração e alcance amplo, envolvendo acadêmicos de diferentes tradições cristãs.

Aliança Evangélica Mundial | Imagem: CNBB

Contudo, o apêndice poderia se beneficiar de uma exploração mais aprofundada dos desafios e obstáculos que podem surgir durante a implementação do projeto. Embora mencione a necessidade de respeitar a dignidade dos cristãos africanos e evitar uma imposição de ideias euro-americanas, não fica claro como essas preocupações serão abordadas. Além disso, seria interessante ter uma discussão mais detalhada sobre a seleção dos textos a serem traduzidos e a abordagem metodológica. Uma análise crítica das fontes existentes e uma avaliação cuidadosa da autenticidade e relevância desses textos fortaleceria o rigor. Em termos de organização do texto, o apêndice é claro e coerente. No entanto, algumas partes poderiam se beneficiar de estrutura clara e conexão fluida entre os pontos. Isso tornaria a leitura mais fácil e permitiria uma compreensão global mais eficaz. No geral, o apêndice apresenta uma proposta empolgante para a pesquisa e reavaliação do cristianismo africano. Os objetivos de tradução, distribuição e aprofundamento das raízes africanas da teologia podem contribuir para uma compreensão da história e do pensamento teológico africano. No entanto, seria necessário abordar questões metodológicas e de implementação para garantir a relevância do projeto.

Por fim, Oden apresenta em seu livro um resumo da cronologia do cristianismo africano. O autor destaca que essa cronologia é necessária devido à falta de informações básicas sobre o assunto, indicando a negligência desse campo de estudo. Tem como objetivo servir como um guia para pesquisas futuras no cristianismo africano primitivo. A ênfase da cronologia está nos eventos, pessoas e textos relevantes para a história do cristianismo africano. O foco principal está nos textos da África primitiva, revelando o escopo dos ensinamentos intelectuais, exegéticos e sociais dos cristãos primitivos. No entanto, o autor ressalta que as datas apresentadas estão sob debate e que existem conflitos. A cronologia busca consistência com base em evidências e sintetiza as principais opiniões acadêmicas, especialmente as pesquisas recentes de Birger A. Pearson e Stephen J. Davis.

Embora o autor reconheça que essa cronologia é apenas uma tentativa de mapear uma vasta história, deixando claro que não busca explicar as ideias mencionadas, mas incentivar estudos futuros. A falta de traduções adequadas dos textos cristãos da África é destacada como problema, e a cronologia literária tem o objetivo de chamar a atenção para essas obras que estão deterioradas. Em que pese observa-se a falta de melhores fontes de referências bibliográficas que deem sustentação a cronologia.

No decorrer do livro, o autor cumpre perfeitamente seu objetivo central, expresso na pergunta sobre como a mente africana influenciou a mente cristã nos primeiros séculos do cristianismo. Ele demonstra que a mentalidade clássica cristã é moldada pela imaginação que surge da África. Para concluir a obra, o autor apresenta um plano específico no apêndice, propondo uma reavaliação teológica e histórica do cristianismo africano primitivo por meio da colaboração de escolas e acadêmicos.

Sumário de Quão Africano é o Cristianismo?

  • Introdução
  • Parte 1 – O berço africano do cristianismo ocidental
  • 1. Uma história esquecida
  • 2. Sete maneiras que a África moldou a mente cristã
  • 3. Definindo a África
  • 4. Uma fé, duas áfricas
  • 5. Tentações: predisposições históricas tendenciosas
  • Parte 2 — Recuperação da ortodoxia africana
  • 6. A oportunidade para recuperação
  • 7. Como o sangue dos mártires africanos se tornou a semente do cristianismo europeu
  • 8. Relembrando devidamente
  • 9. Buscando a reconciliação do cristianismo e do islã através do insight histórico
  • Apêndice — Os desafios da pesquisa primitiva africana
  • Cronologia literária do cristianismo na África no primeiro milênio
  • Bibliografia

Para ampliar a sua revisão da literatura


Resenhista

Luiz Fernando de Carvalho Reis é mestre em Administração Estratégica pela Universidade Salvador (US), especialista em Cultura Teológica pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e bacharel em Administração e Teologia. É professor da Faculdade Irecê (FAI). Entre outros trabalhos, publicou A deficiência visual em questão.  ID LATTES: http://lattes.cnpq.br/1500485484897919; ID ORCID: https://orcid.org/0009-0007-1755-3014; E-mail: [email protected].


Para citar essa resenha

ODEN, Thomas. Quão Africano é o Cristianismo? Sn.: Quitanda, 2022. Resenha de: REIS, Luiz Fernando de Carvalho. Raízes de fé. Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n.12, jul./ago., 2023. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/raizes-de-fe-resenha-de-luiz-fernando-de-carvalho-reis-uneb-ppgafin-fai-sobre-o-livro-quao-africano-e-o-cristianismo-de-thomas-oden/>


© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

 

Crítica Historiográfica. Natal, v.3, n. 12, jul./ago., 2023 | ISSN 2764-2666

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